sábado, 18 de julho de 2009

Discurso-Manifesto

Eu tive um sonho, onde os mais indubitáveis e indefectíveis sentimentos reuniam-se, despiam-se e dançavam, aos olhos daqueles que reconheciam os tais sentimentos, mas, perplexos, não sabiam como reuni-los, nem faze-los se despir, muito menos como faze-los dançar. Eles sequer sabiam que isso era possível, estavam incrédulos, uns, completamente encantados, outros inteiramente revoltados com tamanho disparate. A verdade é que eles não tinham o domínio daquilo que viam, não pela ausência de iluminados na tal platéia, mas pelo fato de que, dentre eles, nenhum era poeta.

Sim, eu tive um sonho, onde os poetas, aquelas figuras únicas, portadoras não do pecado original, mas do pecado falsier (pois Deus, ao criar paisagens e formas de vida tão diferentes e com a capacidade de alterarem-se através dos tempos, nos absolve do crime de enxergarmos a vida de uma forma alternativa), tinham o direito de, a partir do momento que fosse revelado a si o fato de ser o Messias de seu próprio universo, publicar um livro e distribuí-lo de graça, com a certeza de que cada leitor seria um micro-mecenas, pagando ao poeta aquilo que achava que o livro valia.

Sim, eu tive um sonho, onde as pessoas não fingiam gostar de poesia para arrotar boçalidade e pedantismo, onde os poemas percorriam as entranhas, causando sensações quase que orgasmáticas em todos, absolutamente todos aqueles que os liam, escutavam ou simplesmente lembravam-se, pois, eles eram incontestavelmente autênticos, ora em forma, mas, invariavelmente, em conteúdo, e não saídos de uma espécie de linha de montagem poética.

Sim, eu, definitivamente, tive um sonho, onde a proporção não era de cem poetas em um livro e sim a de cem livros por poeta.

Lutemos, então, companheiros poetas, para que seja possível, para cada um de nós, publicarmos um, dois, três, cem livros à altura de um Manuel Bandeira, de um Pablo Neruda, de um Heriberto Hélder ou de um Fernando Pessoa. Ou mesmo que façamos de nossas palavras melodia como um Raul Seixas, pois nós somos o diferencial do mundo, e não temos o direito de nos sentarmos no trono de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a Globo chegar!

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