segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Amor de Mordaça: O Encanto (Fragmento VIII)



Ululantemente, com o passar dos dias, uma aproximação gradativa vai acontecendo. Eu quero retirar dela e de mim as mordaças, colocadas pelo medo e pela insegurança dela. Quero gritar e viver o amor que sinto. Não sei se, tal como Cícero dizia, o amor é o desejo de alcançar a amizade de uma pessoa que nos atrai pela beleza. O que sei é que quero ser e fazê-la feliz e preciso, óbvio, de sua ajuda para alcançar esse objetivo.

Por sorte, seu cangote se transforma num local onde visito com minhas narinas e lábios numa freqüência cada vez maior. Ela diz que meu ato é inapropriado, mas sinto que ela gosta do meu toque, ela confessa, inclusive, que sente saudades, não de mim, mas de meus abraços. Após dizer isso ela sempre dá um Sorrisinho Sarcástico de Maconheirinha Imatura que só ela sabe dar. Vou sentindo o iceberg derretendo aos poucos, até o dia em que a chamo para ficarmos juntos num lugar mais tranqüilo, num lugar que não era, mas ao mesmo tempo era, só nosso. O laguinho da universidade.
 
Já é noite, acontece uma calourada ao longe, conversamos por um bom tempo, tento me aproximar, mas tenho medo de avançar demais, de, tal como Baggio, cobrar o pênalti nas alturas. Bons pênaltis são cobrados às vezes no meio do gol, rasteiro e devagar. Basta o goleiro não defender. Basta você prestar atenção para que lado ele vai cair. Percepção, frieza e instinto: essas são as qualidades de um batedor perfeito. 

Modéstia a parte, bolas paradas sempre foram a minha especialidade, e pênaltis, o meu virtuosismo supremo. A sorte é conseqüência da competência. O fato é que eu estava, realmente, prestes a bater um penal baseado apenas no instinto. E o faço: em meio a nossa conversa roubo-lhe um beijo.  

O beijo é parcialmente correspondido e duplamente criticado. Primeiramente ela o critica pelo fato de ter acontecido, segundo pelo fato de que, para ela, eu não sei beijá-la da maneira que ela gosta. Continuamos nos beijando, ela, com o tempo, passa a criticar apenas o fato de eu não beijá-la bem. “Você não aprende!”. Essa foi a frase mais escutada por mim naquela noite. Ela diz que não estava preparada para um beijo meu, que não era para aquilo estar acontecendo, que ela não sabia se estava gostando ou não, que não sabia quais seriam as conseqüências daquele ato. De qualquer forma, ela continuou me beijando, continuou reclamando de meu beijo e eu, tentando beijá-la da forma que ela gostava. Eu estava em órbita. Eu era o seu satélite. E ela sequer beijava bem. 

Digamos que fechei os olhos, chutei, a bola bateu nas duas traves, nas costas do goleiro e entrou. Essa bendita noite, infelizmente, chega ao fim, mas eu saio dela achando que consegui o impossível. Esse beijo torna se um divisor de águas em nossa relação, a convido, no fim de semana, para sairmos e conversarmos mais um pouco. Obviamente que, dessa vez, eu deixei claro que significaria algo se ela aceitasse. Depois de insistir, consigo sair novamente com ela. Contudo parece que ela se transformou numa outra pessoa, parece que o gelo voltou a tomar conta desse coração, mas sinto que tinha sido o medo, receio de se relacionar novamente, de se machucar novamente, enfim, temor de uma nova desilusão.  

Puta que o pariu, e eu? No espaço de um ano tive três enormes desilusões, incluindo meu casamento. As desilusões já faziam parte de minha história, mas eu estava ali, buscando minha felicidade, e nem me venham com aquele papo de que não se pode depender de outros para ser feliz. “Para mim, o maior suplício seria estar só no paraíso”, assim disse Goethe, numa das frases mais felizes de um pensador até hoje. Precisamos uns dos outros para que sejamos felizes de verdade, a felicidade solitária não passa de uma boa auto-resolução recheada de auto-enganação. Os que crêem não necessitar mais do outro se tornam (ou já são) intratáveis! 

Eu preciso dela para ser feliz, fato! Outra coisa evidente é que, durante esse nosso encontro, ela não me beija, foge de minhas investidas como o diabo da cruz. Lembra-me por alguns instantes a moça que odiei semanas antes no bar da  Rua da Moeda. Tento insistentemente trazê-la até mim, tento fazer com que aquele beijo se repita, tento fazê-la sair novamente da Profana e Estorvante Cabana do Medo. Local onde ela fazia morada após suas relações doentias com pessoas doentes, ridículas e ingratas. Fica bem claro, com todas as reações demonstradas desde o momento em que eu a conheci até aquela hora, que ela se trata de uma doente (afinal, o medo é uma doença), mas não me parece ser nem ridícula, nem ingrata. 

Depois de algum tempo ela revela que contou sobre o nosso beijo para o tal amigo da Noite da Discórdia e para o seu primo (que tempos depois descubro serem um cara que é afim dela e um viadinho, respectivamente), além de ter dito a sua amiga sapatão e a outra amiga (que descubro tratar-se também de uma outra lésbica apaixonada por ela).  

O resultado havia sido desastroso. “Você é lésbica, lembre-se disso!”, assim ela havia sido recriminada por eles (exceto, óbvio, pelo rapaz, a quem não interessava a continuidade de minha amada no planeta das “entendidas”) que todos haviam achado um absurdo. Confesso com todas as letras: um ser homofóbico começa a nascer em mim.  

Ela também revela mais detalhes sobre a depressão da qual ela sofre. Que toma remédios um tanto quanto pesados e que isso afeta o seu humor de uma forma considerável. Mais uma depressiva em minha vida, por sinal. Começo a achar que todas as mulheres do mundo sofrem desse mal. Começo a realmente perceber que a missão é mais dura do que eu imaginava. Na verdade, a mais dura que eu já havia enfrentado. Mas eu não estava disposto a perder por W.O. 

Eis que a noite e o encontro acabam, antes de ir embora, eu a abraço, dou lhe um beijo em seu Pescocinho de Algodão-doce, e digo-lhe, ao pé do ouvido, que a amo e que nunca vou desistir desse amor. Tudo isso sob a vista de seu pai, o qual eu não havia percebido estar ou não perto o suficiente para escutar o que eu tinha dito, da forma com a qual eu havia dito. Foda-se!

Depois do tal encontro, volto para a casa dos meus pais, deito em minha rede, volto a assistir alguns episódios de “Wonder Years”, volto a derramar algumas lágrimas, não só por causa da série, mas por algo que aperta o meu peito como se fora uma imagem de um coração esmagado por uma mão branca, tal como está exposta em seu perfil no tal site de relacionamento onde comecei a ter quase conversas com ela. O lance é que retomo à melancolia do outro dia e sofro por achar que algo me diz que o sonho acabou. Que o juiz anulou o gol.
(continua...)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Sopro de Dragão



Há pedras no chão:
Calçada na rua!
Há homem na lua
Que explicação?

Há pedra na mão
E a dor continua
Amor que não flutua
Não vira canção

Sopro de dragão
Na olhada crua
Não há amor que exclua
A manifestação

Nem homem no chão
Nem calçada na lua
Nem o ódio pontua
A contestação

O "porém" do "então"
A mentira da jura
A dor que perdura
Na exaltação.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Amor de Mordaça: O Encanto (Fragmento VII)

 
Ao sair de meu claustro, acontece algo que eu não esperava, percebo que ela estava preocupada comigo, com saudade, quiçá! Quer saber se eu estou vivo, por onde eu ando, o que aconteceu comigo. Sem dúvida, o tempo é o que se faz e o que faz com que tudo se faça.

Havia, entretanto, uma questão: ela possuía o número de meu telefone e, por algum motivo, não ligou para mim durante o tempo em que passo afastado.  O fato é que ela, novamente através da internet, entra em contato comigo. A questiono pelo fato dela não ter me ligado, ela diz que não sabia se era para ela ligar. Não sabia... E pronto.

Tenho a consciência de que tê-la será um sonho, será um êxtase. Porém me coloco de uma forma diferente diante do sofrimento causado por suas reações evasivas que, conseqüentemente, fazem-me sofrer. Para encontrar encantos no êxtase é imprescindível que o desejo seja incitado por estorvos, estado de êxtase contínuo significa o não-êxtase, aquele que nada tem a almejar é com certeza mais infeliz do que aquele que sofre. Eu sofro, mas para ser, adiante, feliz. E, sem dúvida, já está na hora de sê-lo!

Depois de algumas conversas consigo convencê-la a sair comigo sem escolta, e, graças a Deus, ela aceita. Depois de muita relutância, diga-se de passagem. Ela, antes de aceitar meu convite, me pergunta se significaria alguma coisa, caso ela aceitasse sair comigo, sozinha. Eu digo (evasivamente, é óbvio) que significaria que ela queria sair comigo.

A obviedade do que digo vela a percepção clara que eu tinha de que ela não queria, de forma alguma, me dar esperança alguma, em momento algum. Isso era constante, em cada troca de palavras, em cada troca de olhar, ela atuava de forma devidamente evasiva e desencorajante. Mas eu entro no jogo  e entro para ganhar, não desisto em momento algum. O homem feliz é aquele que consegue transformar as ilusões do bel-prazer em realidades. E é isso que eu quero ser: feliz pra caralho!

Marcamos, então, mais tarde nos encontrarmos e conversarmos, sem compromisso e é o que acontece. Nos encontramos no shopping do dia fatídico, da noite da discórdia. Conversamos, damos belas risadas e mostro o que escrevi durante o tempo em que estive isolado, revelo que ela me inspirou a escrever tudo aquilo, revelo que ela é a minha musa, que ela é, realmente, aquela que amo.

Ela me revela, dentre outras coisas, que não quer mais ter nenhum tipo de envolvimento com ninguém, revela que eu não tenho chance alguma com ela, revela, inclusive, que prefere, pior, só gosta de mulheres, o que me fez sentir menos credenciado ainda nessa luta. Coisa que eu já havia desconfiado e, de certo modo, insinuado em momentos pontuais.

Ela pede para que eu não perca tempo, que eu faça um investimento numa amizade com ela ao invés de ficar sofrendo por um amor impossível de se conceber. É claro que não sigo o seu conselho. Queira só o que podes, e serás onipotente. Esse é a frase que resumiria bem seus argumentos. A conversa se segue e eu continuo a deixar bem claro que iremos ficar juntos, que não vai adiantar ela fugir.

No meio disso, ela me fala que tem trauma em relação a bebidas. Que nunca namoraria uma pessoa que bebesse. Posteriormente ela revelaria que tudo se dava por conta de um tio querido seu que havia morrido (na verdade se suicidado) por conta, ou melhor, através de bebidas.

O fato é que o homem havia bebido até morrer (“my hero”) pela pressão recebida, oriunda de sua família, principalmente, após assumir a sua homossexualidade (retiro, em partes, o que disse). Ele não suportou as mordaças colocadas nele pela sociedade, pela sua família, principalmente por sua mãe.

Eu também possuía uma mãe opressora, nem quero imaginar como seria a minha vida se eu fosse gay, usuário ou viciado em drogas. O inferno que seria a minha existência. Por muito menos fui expulso de casa três vezes. Após ela falar a tal história, a olhei nos olhos e disse-lhe que, a partir daquele momento, eu não beberia mais (já que a possibilidade de eu me agarrar com um homem era, obviamente, desnecessária de ser cogitada). Ela me manda fazer isso por mim e não por ela. Eu respondo que faria isso por nós, pelo nosso bem-estar.

Ela abre um sorriso de quem está começando a ser conquistada, mas logo volta a se esquivar de minhas investidas. A noite acaba de uma forma tranqüila e mais tranqüilo eu vou ficando, vou percebendo que, como diriam os latinos de língua espanhola, “si, se puede!”. A esperança começa a vencer o medo dela e a minha tristeza.
 
(continua...)

Guerreira Dourada (2002)



Meus Heróis
Morreram muito cedo
Vítimas daquilo
Que mais tenho medo

Mas eles vão chegar
Os alquimistas
Os anarquistas
E vamos ressuscitar

Mas um dia pensei
Que descobrir um novo mundo
É missão para poucos
É missão para loucos

De certo, acertei
Eu não sou um vagabundo
Sou como os poucos
Sou como os loucos

Por isso saiba, então
Te incubo da missão
De clarear minha visão

Bela guerreira dourada
Invada minha morada
E destrua minha televisão

Assim, sem hesitação
Chamarás minha atenção
Com seu sabre em mãos

Nunca fique fascinada
Nunca fique calada
E me ajude na canção

Pois eles vão chegar
Os alquimistas
Os anarquistas
E vamos ressuscitar

Memórias de Um Amnésico Quase Recifense: Cap II - As Primeiras Vezes (Parte 1)

NARRADOR: Não é novidade para ninguém que para tudo na vida há uma primeira vez. O primeiro beijo, a primeira surra, a primeira pipa, o primeiro filho ou mesmo a primeira briga na rua. A verdade é que esses pequenos momentos, inesquecíveis ou não, vão, de certo modo, formando o nosso caráter, a nossa personalidade. Pois bem, eu, Giovanni Fontes, estou aqui, pela primeira vez, na capela de um cemitério, vendo, pela primeira vez, o velório de alguém. Como se não bastasse, é um amigo que está ali, deitado. É o meu primeiro amigo que morre. Não adianta fazer cócegas em seus pés ou colocar algo em seu nariz. Ele não vai reagir, não vai se levantar. Ele está morto. Irredutivelmente morto. É a primeira pessoa morta que vejo em minha vida, seja ao vivo, pela televisão ou em pesadelos. O pior nisso tudo: sinto-me, pela primeira vez, morto por dentro. Crianças não deveriam morrer. Ele era jovem para o rock’n’roll, para morrer, então...

PADRE: A vida nos reserva surpresas. Algumas boas, outras não. Nunca esperamos a morte, muito menos a de alguém tão jovem. Mas Deus sabe a hora certa de chamar os seus filhos para a sua morada...

NARRADOR: Enquanto isso, Pinochet...

PADRE: Fernando agora encontrou-se com o nosso Pai...

GIOVANNI: Não tenho saco pra isso, Van. Vamo sair daqui.

VAN: Que triste, né? Um dia desses jogando bola com a gente, e agora...

GIOVANNI: É...

VAN: Desde quando vocês se conheciam?

GIOVANNI: Não sei bem... nunca parei pra pensar.

NARRADOR: Mas eu parei e pensei... eram cinco anos de uma amizade tranqüila e sem cobranças, de brincadeiras na rua, de incríveis batalhas futebolísticas em nossas ruas esburacadas, fosse no sol forte ou na chuva torrencial. Tudo aquilo acabaria ali...

VAN: Aquela ali não é Carol?

NARRADOR: Não nos víamos desde o momento da notícia da morte de Matutinho, quando estávamos em minha casa, prestes a pedir um ao outro em namoro... eu acho. Eu estava com medo de chegar mais perto, medo de estragar tudo dizendo a coisa errada ou sendo inconveniente. Mas é lógico, eu seria tão burro para fazer algo como...

GIOVANNI: Oi, Carol... acho que temos um assunto para terminar...

NARRADOR: Ser insensível num momento como estes!

CAROL: O quê? Isso é hora de falar sobre isso? Você só pensa em você mesmo! Esquece o que eu te disse ontem! Me esquece também, tá?

NARRADOR: Parabéns!

GIOVANNI: Mas, Carol...

CAROL: Mas Carol, p...

NARRADOR: Acreditem, mesmo num subúrbio do Nordeste brasileiro, palavrões entre meninos e meninas com 12 anos ou menos, em 1994, ainda eram raros!

CAROL: Coisa nenhuma! Além do mais, ele morreu por sua culpa!

NARRADOR: Nesse momento, uma bomba caiu por sobre a minha alma. Todas aquelas pessoas chorando, sofrendo com a perda de uma pessoa jovem e querida, era tudo minha culpa? E Deus? Onde estava nessa história? E... como assim, culpa minha?

GIOVANNI: Como assim, culpa minha?

CAROL: Você disse que queria que ele morresse, lembra? E disse isso bem alto! Quem garante que um anjo não disse “amém” naquele momento em que você falou isso e realizou o seu desejo?

GIOVANNI: Mas...

CAROL: Não quero mais ouvir a sua voz, não quero mais te ver, quero que você morra, também! Entendeu? Eu quero que você morra!

NARRADOR: A lógica adolescente é algo que desafia os mais competentes e geniais filósofos. Os seus tratados de causa e conseqüência ultrapassam a metafísica, chegando a mais pura, absoluta, soberana e suprema...

GIOVANNI: Idiotice.

CAROL: O quê?

GIOVANNI: Isso que você tá me dizendo...

CAROL: O que tem o que eu tô dizendo?

GIOVANNI: É a coisa mais idiota que eu já ouvi alguém dizer até hoje em toda a minha vida!

CAROL: Pois bem! A idiota aqui vai embora, e você nunca, nunca mais se atreva a falar comigo, entendeu?

GIOVANNI: Entendeu! Você não faz falta!

NARRADOR: Hã???

CAROL: Muito menos você, baixinho dentuço!!! Só falta um coelhinho azul e um vestido pra ser a “Mônica”!

NARRADOR: Ei, ela pegou pesado agora!

GIOVANNI: E você, com essa bunda de tanajura???

NARRADOR: O que, para mim era uma das suas maiores virtudes...

CAROL: Eu... eu... eu te odeio!!!

GIOVANNI: É, eu também te odeio!!!

MÃE: Passou pela cabeça de vocês que isso aqui é um velório? Se querem brigar, briguem lá fora!

CAROL: Desculpa, dona Adriana. Eu já to indo embora...

GIOVANNI: É, vá mesmo!

MÃE: Vocês dois, do jeito que brigam, vão acabar se casando.

GIOVANNI: Em seus sonhos, talvez!

NARRADOR: E nos meus também!

CAROL: Tenho que concordar com ele, dona Adriana. De qualquer forma, tenho que ir agora.
(continua...)

domingo, 2 de janeiro de 2011

De Léo Zadi Para João Paulo Güma


(Léo Zadi)

Ontem nasceu um pé de guma no meu coração...
E eram vários frutos gargalhando
Gumas verdes
Gumas azuis
Gumas rosas
Gumas lilazes
Brotou guma no meu sangue
E eu ardi, gozei pela pele
Tive euforia intensa, vontade de correr
Desejo de ser inabalável!
Esmaguei sementes de gumas coloridos
E fiz uma batida lisérgica de afoxé com frevo
Degustei gumas de abóbora e saí correndo pelas pontes do meu recife
Cantando Risoflora pro mangue..
Improvisei aforismas pelos becos...bebi pitú com amor..
Cheirei guma em pó, fumei guma prensado..
E deu uma bad tripa de curinga eufórico.. fiquei maloqueiro, ameaçador
Com vontade de cheirar suvacos de pretas..AHAHAHAHAHAHAH
...
E se voce nunca provou essa fruta, experimente, caro fregues.. faça sucos, doces, batidas afrodisíacas, compre já um kilo de gumas!
...
Não...
Não...
Ninguém derruba não o pé de guma dentro do meu coração. 

(Obrigado, grande amigo!)

O Fim de Uma Era: Parte 2 – O Legado


Todo governo, ao seu término, merece um balanço e o de Lula não pode ser diferente! Qual é o legado que ele deixou para o povo brasileiro? Vou tentar exprimir em alguns números, fazendo também um inevitável comparativo com o governo FHC.

O governo Lula reduziu a inflação de 12,5% (em 2002) para 4,3% (no final de 2009) ao ano e a taxa média anual de inflação no governo Lula (6% ao ano) é menos da metade da que tivemos no governo FHC (12,5% ao ano). Além disso, o governo aumentou o salário mínimo para o seu maior valor real em 40 anos, um aumento de 74% entre 2003/2010. O seu governo também reduziu a relação dívida/PIB de 51,3% para 36% do PIB e acumulou um superávit comercial de US$ 252 Bilhões (entre 2003 e 2010) o que facilitou também o pagamento de toda a dívida com o FMI e com o Clube de Paris. O Brasil se tornou credor do FMI, algo inédito na história do país, para quem emprestou US$ 10 Bilhões e hoje, a dívida externa líquida é negativa em US$ 65 bilhões. De lambuja, reduziu o déficit público nominal de 4% do PIB para 1,9% do PIB.

Na “Era Lula” ocorreu a ampliação da capacidade de investimentos do Estado, os investimentos do governo federal e das estatais em 2009 foram de quase R$ 90 Bilhões e em 2010 chegaram a quase R$ 119 bilhões.  As exportações foram de US$ 60 Bilhões/ano para US$ 198 bilhões/ano acumulando um crescimento de 230% em 6 anos. Em 2010, as exportações deverão superar os US$ 200 bilhões, o que acontecerá pela primeira vez na história do Brasil. O que favoreceu para o Aumento das reservas internacionais líquidas de US$ 16 Bilhões (em 2002) para US$ 285 Bilhões (Novembro de 2010).

Lula ampliou o Pronaf de R$ 2,5 Bilhões/ano (2002) para R$ 16 Bilhões/ano (2010). A concentração de renda e as desigualdades sociais diminuíram sensivelmente; o índice de Gini atingiu o menor patamar da História. O governo Lula gerou 15 milhões de empregos formais entre 2003/2010, elevou os gastos sociais públicos para 21% do PIB, criou programas sociais inclusivos, como o Bolsa-Família, ProUni, Brasil Sorridente, Farmácia Popular, Luz Para Todos, entre outros, que beneficiaram aos pobres e miseráveis e contribuíram para melhorar a distribuição de renda e tudo isso favoreceu para a redução do percentual da população brasileira que vive abaixo da linha de pobreza de 28% (2002) para 19% (2006), segundo o IPEA.

O BNDES emprestou R$ 137 Bilhões em 2009 para o setor produtivo, contra cerca de R$ 22 Bilhões em 2002. Além disso, Lula fez o Brasil se tornar credor externo, com um saldo positivo de US$ 65 Bilhões, algo inédito na História do país. Iniciou novas grandes obras de infra-estrutura (rodovias, ferrovias, usinas hidrelétricas, etc) financiadas tanto com recursos públicos como privados. Exemplos: Usinas do Rio Madeira, Transnordestina, Ferrovia Norte-Sul, recuperação das rodovias federais, duplicação de milhares de quilômetros de rodovias.

Na educação, Lula anulou portaria do governo FHC que proibia a construção de escolas técnicas federais e iniciou a construção de dezenas de novas unidades e que foram transformadas em Institutos Superiores de Educação Tecnológica (são 214 novas escolas técnicas federais construídas entre 2003/2010). Criou o Reuni, que iniciou um novo processo de expansão das universidades públicas, aumentando consideravelmente o número de universidades, de campus e de vagas nas mesmas.

Os lucros do setor produtivo cresceram quase 200% no primeiro mandato em relação ao governo FHC. O governo Lula fez o Estado voltar a atuar como importante investidor da economia. Exemplos disso: a criação da BrOI, que têm 49% do seu capital nas mãos do Estado; a compra e incorporação de bancos estaduais pelo Banco do Brasil (da Nossa Caixa, do Piauí, Santa Catarina e Espírito Santo) evitando que fossem privatizados; a participação da Petrobras em 2 grandes petroquímicas nacionais (a Braskem, com 30% do capital nas mãos da Petrobras; a Ultra, com 40% do capital nas mãos da Petrobras); o aumento da participação dos bancos públicos (BNDES, CEF, BB, BNB) no fornecimento de crédito para a economia do país. Elevou o volume de crédito na economia brasileira de cerca de 23% do PIB, em 2002, para 46% do PIB, em 2010;

Durante o governo Lula, nasceu o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que prevê investimentos públicos e privados de R$ 646 Bilhões entre 2007/2010; até 2013 os investimentos previstos chegam a R$ 1,14 Trilhão. Esse mesmo governo reduziu a taxa de desemprego de 10,5% (Dezembro de 2002) para 6,8% (Dezembro de 2008) e reduziu os gastos públicos com pagamento de juros da dívida pública para 5,9% do PIB (em 2008), representando uma queda de cerca de 36% quando comparado com o segundo mandato de FHC.


Se vocês ainda acham pouco, vale a pena ver esse quadro comparativo:

Qualquer outra dúvida, há esse documento extremamente útil:

Algo mais a dizer? Apenas que Lula vai deixar saudade...

sábado, 1 de janeiro de 2011

O Fim de Uma Era: Parte 1 – O Sentimento



Eis uma frase que será difícil para se acostumar: “O ex-presidente Lula...”! Eu, por exemplo, lembro bem da época em que era surreal a idéia de Lula ser o presidente, lembro bem do terrorismo onde as bombas eram palavras, todas para atacar o então candidato Lula, que, por uma ironia do destino, foi o homem que mais perdeu eleições para presidente no Brasil. Lembro do dia em que chorei copiosamente ao ver Lula assumir. Chorei por mim, que não acreditava no que via, que tinha a esperança de que o país iria tomar o rumo certo, chorei por meus pais, eternos militantes do PT, meu pai, inclusive, escapou de um atentado na época da ditadura, chorei por Lula, me coloquei no lugar daquele retirante, torneiro mecânico, sindicalista, daquele que receberia o segundo diploma da sua vida, o de presidente da República Federativa do Brasil. Meu choro na tarde desta Segunda-feira, dia 1º de Janeiro de 2011, foi um choro saudosista, um choro de despedida daquele que foi o maior presidente da história do Brasil.

Tentar não ser melancólico é difícil num processo como esses, ver um homem velho chorando ao cumprimentar seu povo, principalmente depois do excelente governo feito, é algo de mexer com as emoções de qualquer um, principalmente para aqueles que, assim como eu, tiveram o prazer de conhece-lo. No meu caso, numa das visitas feitas por ele à Pernambuco, mais precisamente à UFPE. Um aperto de mão, três tapas (de uma mão pesadíssima) nas costas, e um “força, companheiro João!”. É óbvio que sei que aquilo foi um tratamento padrão, que ele não vai lembrar de mim na próxima vez que nos encontrarmos, enfim, sei que foi um encontro especial apenas para mim, mas estive com o homem, estive com a lenda, e ver a lenda se afastar do lugar que ele mais ama e onde ele é mais útil tem cheiro de tragédia, tal como ver os Beatles acabarem ou um Pelé, um Michael Jordan ou mesmo um Dan Marino se aposentarem.

Lula não foi um presidente perfeito, teve sérios problemas dentro do seu governo, mas soube cortar na própria carne quando necessário, abrindo mão de antigos companheiros que estavam “desestabilizando o governo” com suas práticas (sejamos bem sinceros) absolutamente normais para a política. Falo mais precisamente do mensalão, José Dirceu, e mais alguns que pecaram por dar continuidade a algo que, talvez, desde a época de Dom Pedro já existia. Não estou defendendo as práticas corruptas daqueles que falharam no governo passado, mas há de se convir que a política brasileira ficou um pouco mais transparente ou pelo menos a política de jogar tudo para debaixo do tapete foi amenizada.

Mas mudando um pouco de assunto, ver um torneiro mecânico brasileiro ser considerado pelo mundo como o político mais influente do planeta, é de arrepiar. Lembro-me que, pouco tempo após ser eleito, Lula recebeu severas críticas dos esquerdistas mais radicais, que o acusavam de estar fazendo um governo igual ao de FHC, que, por sinal, havia entregue um Brasil falido ao seu sucessor. Confesso que também me questionei em relação a isso, mas numa conversa com um dos meus mestres em relação à política, o deputado federal eleito, Luciano Siqueira, do PC do B, ouvi algo que o próprio Lula o havia dito, da forma com a qual nos acostumamos a ouvi-lo explicar as situações políticas, através de uma breve e simples metáfora. Ele falou de um carro com o motorista o guiando a 180 por hora, indo em direção a João Pessoa, motorista esse que percebe que está indo para o caminho errado. Ele tem duas opções, ou continua e vai diminuindo aos poucos a velocidade, ou faz uma curva brusca na direção desejada. A segunda opção seria trágica, com o capotamento e destruição do veículo em questão.

Enfim, acho que já falei demais desse pernambucano (tinha de ser) que mudou a cara do Brasil. Mas vem aí a parte 2 e nesse próximo texto vou inserir realizações do governo Lula.

Pra começar o Ano Bem!!!




Nada mais condizente...
Salve Laerte!!!