sábado, 27 de fevereiro de 2010

Gozo Latente


Esse frevo fervente
Com esse blues tão azul
Avermelha meu povo
Que quer fogo de novo

E esse gozo latente
Arrasta essa gente

Espantando as trevas
Às cinzas do esquecimento
E dando adeus ao tormento

O meu povo, dançando
Arrebenta as sandálias
Por sobre navalhas

Então perdoe nossas falhas
Pecados e excessos
Meu bom deus milenar

Mas aqui quem não frêva
Bluzêia ou manguêia
Já quer aprender a brincar

Já quer aprender a brincar
Já quer aprender a brincar, meu bom Deus
Já quer aprender...

A Gozar

De Quatro em Quatro


Se você, leitor, perguntar a alguma pessoa, por mais politizado que ela seja, qual foi o acontecimento mais importante do ano de 2006, existe uma enorme chance da resposta ser a Copa do Mundo. Se as perguntas subseqüentes forem relacionadas aos anos de 2002, 1998 ou mesmo 1994, as respostas provavelmente serão as mesmas. Variações podem ocorrer entre os mais carnavalescos ou mesmo entre aqueles que tiveram filhos nesses anos. Se você, após as perguntas anteriores, questionar qual acontecimento trás mais expectativas neste ano de 2010, a resposta será a mesma: o famigerado mundial.

Se caso você perguntar a si mesmo, a resposta será igual. Se caso você perguntar a mim, idem. Mas, onde quero chegar com essa verborragia? Respondo, no ponto-chave para se fazer de um povo, gado: a alienação.

Alienação, em suma, se refere à diminuição da capacidade dos indivíduos em pensar em agir por si próprios. Em todos os anos citados, aconteceram eleições para presidente do Brasil, anos que deveriam ser considerados chaves pelo povo brasileiro, que, por conta da alienação que o domina, considera secundário aquilo que é primordial e prioritário aquilo que deveria ser uma mera distração.

Falando assim, não me considero um “sujo” falando dos “mal-lavados”, reconheço o nível de minha alienação ao esporte bretão, não só por ser torcedor, mas também por ser, atuante ou não, um profissional da área. Reconheço, contudo, que erro em minha prioridade de importância. Não quero também ser um comunista chato que torceria por Cuba num possível embate com o Brasil no Mundial, por azar ou sorte, a ilha de Fidel sequer se classificou à Copa.

O que ocorre é que a movimentação do brasileiro durante uma Copa do Mundo, sua entrega à pátria de chuteiras, a comoção nacional em prol de algo que, cá entre nós, nosso povo não pode influenciar diretamente no resultado final, me emociona por um lado e me revolta por outro. É lindo ver a demonstração quase obscena de patriotismo durante o Mundial, mas, durante as eleições, excetuando-se a militância nem sempre consciente, porém voluntária, de alguns partidos de esquerda, toda movimentação do brasileiro tem um interesse, não coletivo e sim, pessoal, quase sempre financeiro, como principal motivador.

Quando falo que é o principal, não quero dizer que é o único. O que é bem claro, e não estou descobrindo a América com essa afirmação, é que falta, ao povo brasileiro, além do conhecimento necessário sobre o assunto, que viria com uma educação qualificada, uma paixão pela política. É o que sobra quando o assunto é o futebol.

O mesmo se aplica à religião, não que o futebol também não tenha algo de religioso (não confundam o religioso com o sagrado), mas o importante é que boa parte dos brasileiros (alfabetizados) já leram a bíblia, livros sobre esportes, livros de Paulo Coelho, entre outros, mas nunca a constituição brasileira, nunca um livro sobre política, sem falar da desativação em massa dos rádios na hora da Voz do Brasil, informativo sobre os acontecimentos da política no nosso país. Enfim, é isso que eu chamo de alienação.

Quanto a paixão pela política, pode ser querer demais de minha parte, mas, em certas áreas, o conhecimento leva à paixão, e este é o caso da política que, apesar de todas os fatores escusos que a cercam em sua ordem prática, é algo que com o tempo passa a fazer parte de seu DNA, até o ponto em que se desassociar dela torna-se impossível, e o melhor, não se faz necessário deixar de gostar de futebol para que isso aconteça.

Que venham a Copa e as eleições. Aguardamos ansiosamente por ambas.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O Arruda da Moda.


Há imagens que valem mais do que mil palavras do Güma.

[V] Ritual Xamânico: Encontro das Oferendas


(Bragi & Igarb)

O fogo: primórdio!

O pão: carne!

O vinho: sangue!


Mensageiros imortais

Lancem-se aos ventos

Façam com que aquela deusa

[Ao sono dos despreocupados]


Desperte para a sua missão primordial:

Fazer de Recife

Athenas e Sodoma

Atlantis e Babilon

Moscow e New York


[Ab imo core! Py’a tyty!]


Tomem a si o que lhes ofereço:

O fogo para iluminar os caminhos!

O pão para dar-lhes força na jornada!

E o vinho para alegrar a alma cansada!

Somos apenas analfabetos cósmicos

Queremos apenas a suavidade ferina

Perdoem nossos pedidos incômodos!


[Dare et remittere paria sunt! Maleime!]


Lancem-se aos ventos

Ó mensageiros imortais

Mensageiros seculares

Saibam que farão dos seus esforços

Alegria para os foliões que te clamam

Que clamam por La Bohêmie!


Ó carteiros mitológicos

Perdoem nossos pecados-chamados

Confabulemos... Eis as oferendas:


Do vinho: lombra!

Do pão: larica!

Do fogo: chamado!

...

(Bragi) Não houve resposta!


Talvez o oferecido não tenha sido suficiente... (Igarb)


(Bragi) O talvez os seres aos quais oferecemos não sejam os suficientes...


Talvez ambos. (Igarb)


(Bragi) Com toda a certeza... Talvez...


O que é suficiente? (Igarb)


(Bragi) Nada nunca é suficiente!


Será o nada suficiente? (Igarb)


(Bragi) Talvez não... com toda a certeza.


Certezas... Nunca são suficientes! (Igarb)


(Bragi) O que será suficiente?


Somos. (Igarb)

Mainha da Minha Paz



Menina, preciso dizer
O bem que você me faz
Em letra de música
Que não vai te contemplar

Pois eu vejo você ser
A mainha da minha paz
Até na lágrima tua
Que eu sinto rolar

Então, me diga se sou
O painho do teu sorriso
A sorte do teu improviso
Ou letra da tua canção

Aí direi que tu és
O chão da minha cidade
A graça da minha idade
Mantra da minha meditação

Pois eu vejo você ser
A mainha da minha paz
Até na lágrima tua
Que eu sinto rolar

Desses teus olhos que são
Portal da minha felicidade
Larica da minha mocidade
Razão deste meu cantar

Paradoxa(rros)



Esfera de fogo
Congelada em meus olhos
Serenos de ódio
É isso que vejo que sou

Diante de tua figura
Demoniacamente pura
Que meu corpo reclama
E inflama, e ama na cama

De espinho que é o teu coração
De espinho que é o teu coração

E neste meio-dia sombrio
Derretendo de frio
És o calor que preciso

Para morrer congelado de amor!
Para morrer congelado de amor!

Ou para amar aquecido de morte.

Vou Evaporar



Vou evaporar...
Só pra você não me inalar
Não me fazer de passatempo

Não perca o meu tempo...
E não perca o seu vento!

Vou evaporar...
Só pra você não me encontrar
Ou me perder, jogado ao relento

Não me deixe atento.
E não se deixe lento!

Pois o que eu quero é evaporar
E levar você a um outro lugar
Onde irás ouvir Zumbi zumbizar
Onde também você vai evaporar...

Vai evaporar!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Carnaval no Haiti


Eis que me vejo, em plena ladeira de Port au Prince, seguindo um bloco animado por uma marcha fúnebre, presenciando casais, ora hétero, ora homossexuais, transando ao ar livre por entre os escombros da cidade arrasada. Sinto que eles não se importam se estão sendo observados, muito menos se estão chocando aqueles que por ali passam. Boa parte não se importa, sequer, com o fato de que muitos de seus parceiros e parceiras sequer querem praticar o ato, ali estando somente por conta da força que uma pistola, carregada ou não,encontrada por entre os escombros da casa de algum policial, ladrão ou ambos, pode exercer.

É neste cenário que avisto, ao longe, uma negra, peluda e enorme perna, por entre as ruínas. Seria a famigerada Perna Cabeluda que, outrora, aterrorizava a cidade do Recife com suas ações devidamente narradas por Jota Ferreira e citadas musicalmente por Chico Science? Estaria eu, em pleno Haiti, diante de uma lenda urbana de minha querida cidade?

A curiosidade moveu-me em êxtase da direção da tal perna. Me afastei da também extasiada (de forma fúnebre) multidão, me aproximando mais e mais, enfrentando o mau cheiro de Port au Prince que, em alguns momentos, lembra o de Recife. Vou passando por entre pessoas doentes, mutiladas, desabrigadas e semi-mortas, que tentam se agarrar ao meu corpo, iludidos pela minha fantasia de médico, da qual apenas a máscara me era realmente útil.

A cada passo, lágrimas para onde eu olhava, corpos em decomposição, Cristos aos milhares nesta Jerusalém às avessas. O mau cheiro só aumentando, pior do que o último dia de Carnaval nas urinadas ladeiras de Olinda.

É quando, ao chegar realmente perto, percebo que a tal perna não tem vida. Provavelmente teve de ser retirada para que seu dono pudesse sobreviver e ali mesmo foi deixada.

Eis que percebo que a Perna Cabeluda não passa de uma lenda. Ao contrário daquela. E que ela, quem sabe, poderia ter sido a de Pelé.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Não Fico Mudo



Bem, meu bem
O bem tomou conta do nosso mundo
Bem muito

Bem, meu bem
E o bem ainda vem chegando à miúde
Não mude

Que eu não mudo
Que eu não fico mudo
Eu te direi que meu mundo
Nunca mais será imundo

Que eu não mudo
Que eu não fico mudo
Que, por ti, falarei tudo
E também serei, sobretudo

O teu bem maior!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Asfalto-Coração (ou Lembranças do Tempo que Repulso)


Meu peito, encostado
Naquele ardente asfalto
(Coração esmagado)
Congelando tudo que toca

Congelando toda a música que toca...

Toda a música que toca!!!

...

Que alguém toque algo que esquente
Nem que seja algo que mente
Enquanto a verdade revela

Sem hesitar
Sem excitar

Sem exit(tar)!!!

Gatinha-Gateau


Com os meus olhos
Mato a minha fome
Que, toda, te come
Como se fora uma sobremesa

Com meus olhos
Chamo o teu nome
Para que você retome
A deixar minha alma acesa

Pois és tão quente por dentro
E um sabor doce, de ti, exala
E um tremor, cujo epicentro
É negro como uma senzala

E você, minha Preta-Branquela
Me deixou com uma sequela
Que a minha alma até já acatou

Pois ao olhar para a senhora
Só penso em te comer, agora
E fazer de ti minha Gatinha-Gateau!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Tu És (ou Filme Em Preto e Branco)



És minha aquarela
És minha cautela
És não só aquela

És toda divina
És minha menina
És minha sabatina

És estrada de rosas
És poemas e prosas
És minha voluptuosa

És pára-raios em forma de flor
És o meu humor
És a minha cor

És tempestade em sorriso
És o meu piso
És o meu aviso

És grito de quem ama
És o meu pijama
És o meu drama

És o meu cobertor
És meu tranquilizador
És toda rima para amor

És meu alavanco
És, pela qual, me destranco
És dia colorido...
És filme em preto e branco.

[IV] Ritual Xamânico: Cântico à Gula


(Igarb)

Nesta rua-de-estar
Cabeças de cabanas
Sonham em teto volátil:
A ancestral planície!

Nesta, de estar, Rua
Brotam, surgem
Desoladas desoladas
Invadidas pelo medo

Lembram o estar
Noutras eras, noites
Quando ainda erravam
Uivavam, cantavam

O coração-bonsai... Exposto... Doido
O coração-bonsai... Ao vento... Doído

Nesta rua-de-estar
O jantar lembra um javali
Caçado noutrora planície
Grita o juízo seu apetite:

Cabeças cabeças
Cabanas cabanas
Desoladas desolam
Canibais canibalizam
Sangues sangram
Sonhos sonham sonhos

Epilépticos

Epilépticos...

Epilépticos...

Nesta rua-de-estar
O terreno abaixo:
A ancestral planície
Onde Belzebu chupa ossos

Os ociosos ossos do tempo...

Toma então teu pão
Come então teu vinho
Entope-te de gula
Da boca ao anus

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Afoxé do Amor-Canção



A minha vida junto à tua
Seja na Terra ou na Lua
Feliz, sempre estará

O teu quase-beijo pontua
O fato de eu estar na tua
O fato de eu te amar

E o teu beijo revela
A imagem mais bela
De se vislumbrar...

E o teu beijo revela
A imagem mais bela
De se vislumbrar!

Posso estar só de passagem
Nessa sua vida-paisagem
Tão bela de admirar

Mas sentimentos me invadem
Me enchem de coragem
Pra minha vida esticar

Pois a tua vida revela
Que, à minha, se atrela
Com o tempo a passar

Pois a tua vida revela
Que, à minha, se atrela
Com o tempo a passar

Para mim está bem claro
Que o nosso amor é raro
Que é um amor-canção

Então a ele dê amparo
Pois ele não é caro
Ele é só coração

E o teu coração revela
Que tu és aquela
A salvar da solidão

E o teu coração revela
Que tu és aquela
A salvar da solidão

E eu confio em meu faro
E, neste amor, não paro
De investir na emoção

Confesso que não reparo
Quando olhares disparo
Olhares de sedução

E o teu olhar revela
A forma mais singela
De excitação

E o teu olhar revela
A forma mais singela
De excitação

Ou não...

Mantra dos Poemas-Luzes


Luzes-Poemas...
Princesas Brancas...

Hei de ser...
Hei de ser...
Os teus heróis!
Os teus amores!

Como pra mim vocês são
Como pra mim vocês serão

Hei de ser...
Hei de ser...
Um pouco mais vocês
Um pouco mais talvez

E bem menos não...
E bem menos, não!

Hei de ser...
Hei de ser...
Bem mais que pensei
Mais do que poderei

Bem mais que ilusão
Bem mais que canção

Hei de ser...
Hei de ser...
Mais que um marido
E mais que um pai

Bem mais que razão
Bem mais que emoção

Pois vocês são...
Vocês são...
Pequenas grandes luzes
Num mar de escuridão

E eu hei de ser...
Hei de ser...
Bem mais que um náufrago
Bem mais que um fugitivo

Hei de ser comandante...
Hei de ser capitão!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Menina-Batuque


Menina de areia branca
Da praia de Boa Viagem
Será, teu sorriso, miragem?
Razão desse meu cantar

Razão da minha razão me deixar

Menina dos olhos de luz
Como o farol de Olinda
Será que me vêem ainda
Com olhar de se desejar

Com olhar de quem quer mais olhar

Menina-Batuque serena
Com cheiro de afoxé
De onde que vem teu axé?
De onde vem o teu amar?

Vem do mar!
Onde eu vou navegar...