quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Vai Dar Rocky?



Candeias/Dois Irmãos... E eu reclamava do Rio Doce/CDU! Esperar uma merda de um ônibus que só passa uma vez, em Noite de Lua Cheia, não é vida pra ninguém! Mas é o jeito... andando até a Cidade Universitária é que eu não vou! R$ 3,10! Isso mesmo, uma cerveja, na verdade três Cervejas Frevo em Jorge, pra me locomover pra maldita "cidade" da qual tento sair desde que entrei! Putamerda, isso não vai dar certo!

Enfim... maldito seja! Mas ele, o maldito, chega! Pelo menos não chega lotado, um lugarzinho na janela... maravilha! Vão entrando os passageiros, uma mistura de trabalhadores cansados com estudantes em férias procurando algo pra fazer. O ônibus vai ficando cheio, vão sendo tomados os lugares e o que fica ao meu lado ainda vazio. Olho para a pista, através da janela, e vejo uma loira linda, falsamente magra, angelicalmente sedutora, vestindo uma bermudinha elegantemente curtinha e uma blusa de uma cor que homem que é homem não sabe dizer! "Meu lugar está vago!". É isso que desejo falar mirando-lhe um Olhar 43 (aquele assim, meio de lado), mas, a impressão que o rapaz à sua frente é seu namorado me impede de fazê-lo. Feliz ou infelizmente, essa impressão é dissolvida quando o tal cara vai para a parte de trás do ônibus e ela senta ao meu lado... não tão perto quanto eu desejava, mas na outra cadeira, separados pelo corredor, mas no campo de visão, pelo menos!

Tudo bem... eu poderia ter agido, eu poderia, mesmo com ela sentada na cadeira ao lado, chamá-la para dividir um pouco da viagem comigo, mas algo me impediu! Tudo bem, eu tinha passado a tarde e parte da noite tomando cervejas com um amigo, avistei duas mulheres sozinhas no bar, pedi um cigarro arregado e joguei mais uma pala cheia de olhares penetrantes e palavras que fazem a alma feminina ficar nua. Logo ela me convidou pra sentar ao seu lado! Ora, ora... uma pseudo-louqinha da praia de Candeias teria mais coragem do que eu? Sim... neste caso, sem dúvida!

Não foi falta de coragem, tenho de me defender: foi falta de disposição! A Fase do Urubu já está chegando ao fim, o mundo tira a metralhadora de suas mãos e te dá um fuzil de longo alcance... os tiros têm de ser certeiros! Nada de rajadas! Ela está ali, o lugar dela está aqui, e eu... eu não quero gastar energia! A próxima parada pode ser melhor, quem sabe... e ela chega!

Temos, mais ou menos, cinco lugares vagos no coletivo... cinco pessoas entram no ônibus! A primeira passageira, uma senhora de uns 45 anos, senta-se exatamente atrás da minha Honorável Musa Dourada. A segunda, uma mulher com seus 30 anos senta-se na cadeira imediatamente atrás da minha. A terceira pessoa a entrar no ônibus é um adolescente cheio de espinhas que decide ir para uma cadeira na parte de trás do ônibus, longe de mim, por sorte! O quarto... ou melhor, a quarta, ele... ele... ele é ela! Entende? Um travesti com um trapézio à lá Victor Belfort, mas com seios e pernas estilo Mulata Globeleza. Ronaldo faria a festa, mas eu não tô muito afim de passar uma hora de viagem sentindo aquele cheiro misturado de homem e mulher! 2 lugares... 50% de chance da minha viagem ficar umas 2 horas mais longa, psicológicamente falando, é claro! Ele(a) olha pra mim, olha pra cadeira e, por algum motivo inexplicável, decide sentar-se um pouco mais atrás... felicidade! Mas, por um segundo, eu me pergunto: por um acaso eu tô cagado?

Só existe um lugar no ônibus vago, exatamente o que fica ao meu lado! Caceta... será que eu apareci em Cardinot? Será que eu pareço com algum fugitivo da polícia? Enfim, tudo isso é amenizado pela última passageira a entrar, uma morena, baixinha, com um cabelo curto, liso, seios proporcionalmente fartos, pernas suculentas, olhar de Tigresa Caetanovelosesca. Só há o meu lugar, mas, antes dela passar pela catraca, me pergunto: e se ela preferir ficar em pé a sentar ao meu lado, como eu fico? Percebo que, no estado em que me encontro naquele momento, o sentar ou não de uma morena pode me levar à depressão.

No momento em que penso em depressão, lembro da pseudo-louquinha gostosinha que eu havia conhecido mais cedo, me dizendo que era depressiva e que haviam indicado um remédio para depressão que diminuia a ânsia de fumar cigarro e aumentava a libido. Puta que o pariu!!! Esse remédio salvaria meu último namoro. Eu, sem dúvida, compraria esse tal remédio para a minha, então, namorada-múmia depressiva e frígida.

Ela passa a catraca, ela olha pra mim, nunca os passos de uma mulher foram tão demorados, mesmo que, de todas as pessoas que haviam entrado no ônibus até aquele momento, ela tivesse sido a mais rápida e mais decidida... sim, ela sentou! Sentou com propriedade, sentou decidida a estar... a estar... a estar sentada! E que morena... em pé ou sentada!

São, aproximadamente 5 minutos de alegria extrema e de preparação para o ataque... porém, toda vez que me proponho a puxar assunto com a morena, acabo olhando de relance a loirinha angelical, que se contrapõe (e eu gostaria que, junto a mim, se sobrepusesse) à morena deliciosamente infernal. Sinto a bilateralidade dos sentimentos de uma forma insanamente intensa: estou de pau duro por uma e de coração derretido por outra!

Eis que a minha alegria recebe um baque, sobe um pai com um filho de, aproximadamente, quatro anos em seus braços. Torço para que alguém tenha a sensibilidade de oferecer o lugar, mas isso não acontece. Levanto e peço para que ele sente em meu lugar. Fico, então, em pé ao lado da Morena Libidinante. Eis que Deus, numa relação de troca direta ou premiação à bem-feitoria anterior, me dá uma das melhores visões da história da minha vida: o decote dos seios mais suculentos que minha memória me deixa lembrar.

Passo uns dez minutos ali, dando pequenas grandes olhadas naquelas obras divinas supervisionadas e planejadas pelo demônio, mas sinto saudade de algo mais existencial, menos carnal, estou com saudade da Divina Galega Jubilante a qual tive que dar as costas. Além de tudo, a gradativa ocupação do ônibus vai diminuindo meu campo de visão. Decido ficar em pé em outro local, de forma estratégica, onde dê para que eu veja os dois motores de meu desejo, ao mesmo tempo, numa bigamia secreta, profana e ontológica, onde só eu sei que me casei com as duas e onde nenhuma delas sabem que estão casadas comigo.

Pela dinâmica da ocupação dos espaços, percebo que não poderei ter as duas no meu raio de visão, decido, por uma questão de justiça, ter a loirinha em minha alça de mira. Já tinha visto a morena demais, nossa relação já estava se desgastando, é bom mudar um pouco de ares. Que graciosidade, ela vai pegando as bolsas de cada pessoa que se encontra próxima a ela, com uma voz suave, linda de se ouvir, e um sorriso educado e sereno... ela é um amor... ela é um anjo... ela é Deus! Penso novamente que estou cagado! Ela pega as coisas de todos, mas eu, que estou praticamente na sua frente, sou ignorado em sua intenção de ser a Boa Samaritana Carregadora de Bolsas. Penso logo: Ela é lésbica... ela é depressiva... ela é frígida... ela é Deus!

O ônibus vai se esvaziandoe e a minha visão começa a ficar mais privilegiada, percebo que a galega começa a olhar para mim numa constância cada vez maior. Não sei se é interesse ou se é pelo medo de ter um cara em pé, perto dela, quando há quase uma dezena de lugares vagos dentro do ônibus. Me toco e abdico da facilidade de ter a visão das duas separadas apenas por um movimento dos olhos. Volto a me sentar ao lado da morena, só que, desta vez, ela já havia assumido o posto da janela e eu fiquei, literalmente, entre uma e outra! Para quem olhar? Com quem devo conversar? Quem devo amar? Percebo que o tempo passou depressa, tão depressa que quase desejei que o travesti chegasse perto de mim para que o ritmo do tempo diminuisse um pouco mais... enfim... pergunto as horas para a morena... 20:59. Pergunto se ela sabe se o ônibus entra na General Polidoro, ela diz que não sabe, pois, assim como eu, não pega esse ônibus.

E é isso! Nada de olhares penetrantes, nada de palavras enudecedoras de almas, pior, o ônibus chega ao meu destino. Antes de descer, meio que tento me despedir da morena e olho, meio que de relance, para a galega, que também olha pra mim. Desço do ônibus e olho para aquela loirinha radiante, que também olha pra mim. Aceno com um "tchau" bem discreto e ela abre um sorriso que eu nunca mais vou esquecer, como se me perguntasse "por que você não fez isso antes?".

Coube a mim responder-lhe com um olhar que dizia "até a próxima viagem!".

Pois é... não deu rocky!

4 comentários:

  1. ta parecendo um conto erótico... to inspirado agora. visita meus blogs parceiro! grande abraço

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  2. João, amei!!! Sou seguidora constante e viciada do seu blogue a partir de agora kkk!!! Muito bom o texto!! Tinha esquecido de como você é artista!! beijos.

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  3. Hey Guma!
    Gostei do texto. Maduro. Ritmo bacana, palavras selecionadas. Talvez o fuzil de longo alcance que o mundo tenha te dado seja para mirar palavras certas, em paragrafos-habitat certos!
    cheiro. falou.

    Ailton Brito

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  4. Como deu pra perceber, tive que começar a gastar uma grana pagando pras pessoas comentarem os posts...

    Antenor, meu querido... é sempre um prazer saber que vc fica excitado com as coisas que eu falo, escrevo, toco ou acaricio... haha! Enfim, deixando de viadagem... precisamos tomar umas e falar sobre as coisas da vida sob o ângulo que só nós conseguimos ver.

    Thássia, te perdoarei pelo fato de vc ter esquecido o qto que eu sou artista. Principalmente pelo fato de que eu não sou um artista... no máximo sou um ótimo ator pornô para filmes heterossexuais (afinal, isso é a convergência de duas artes). Muito obrigado e tô com uma saudade gigante de vc!

    Aílton, Aílton, Aílton... essas palavras vindas de vc são extremamente infladoras de ego! Muito obrigado e precisamos tomar umas sem eu estar com dor-de-cotovelo por causa de alguma lésbica!

    Grazie, grazie, grazie, fratelli!

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