quinta-feira, 30 de abril de 2009

J, P. (2009)

Pernambucana.
Leoa, extrato da cana
Amontoas toneladas de matérias
Em cima de meu ser

Pois teu olhar me enterra
Teu olhar me acelera
Teu olhar: minha queda livre!

Pernambucana
Não me livre dessa queda...
Amontoe matérias e sonhos
Em cima de meu ser

Pois teu olhar é serpente
Que envenena
Mas não consegue matar

Apenas me faz cair, cair, cair...
Até os céus.

Do teu infinito particular.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Carburando (2008)


Carbura
Carbura, morena
Entre em cena
E decida o meu destino

Carbura
Carbura, morena
Nova Athena
Eu quero ser o seu menino

Menino bom
Que a maldade não leva
E a sociedade preza
Vendo-o como o salvador

Menino bom
Que a sua alma entrega
A uma morena bela
Que pra ele é seu amor

Então carbura!

Carbura
Carbura, morena
Entre em cena
E decida o meu destino

Carbura
Carbura, morena
Nova Athena
Eu quero ser o seu menino

Menino bom
Que adora regalias
Que olhares te envia
Ó, beleza opulenta!

Menino bom
Que ao te ver se alivia
E que te quer todo dia
Com uma boca sedenta

Então carbura!

Carbura
Carbura, morena
Entre em cena
E decida o meu destino

Um Cheirinho de Yaiá (2008)


Durma, que no meio da noite
Acordarei só para ver
Se teu sono corresponde
Aos seus anseios de viver

Acorde, e me olhe com olhos
De quem só quer saber
Quer saber o meu nome
E perguntar: quem é você?

E chore quando algo quiser
E você não puder ter

E me diga, Yaiá
O que é que eu vou ser
Quando você crescer

Brinque com os meus dedos
Feitos só pra você morder
E com o passar do tempo
Não deixarão de te pertencer

Grite, pois com esse teu grito
Farás o mundo ensurdecer
E quando encontrares teus planos
Ele também te fará vencer

E sorria, pois o teu sorriso
Me motiva a viver

E me diga, Yaiá
O que é que eu vou ser
Quando você crescer

Só durma quando não houver
Mais nada pra fazer

E me dê, Yaiá
Um cheirinho
Quando eu desaparecer!

A Minha Mulher (2001)

Sou artista e você, minha mulher
Não espere de mim atenção especial
Pois minha arte é meu prato principal
Pois prefiro minha arte à você

Sou artista e você, minha mulher
Saiba que me amor é irreal
E você sendo uma mulher, é normal
Contentar-se em ao meu lado viver

Saiba que meu amor por você é inócuo
E nunca poderá ser mesmo concreto
Porém algo em mim é bem certo
Te seguir, para mim é humilhação

No meu carnaval, és só um bloco
Mas desejaras fazer o que é correto
E terás que carregar em ti o feto
Referente à minha perpetuação

Nunca entrarás em minha mente
E sempre respeitarás meus mestres
Serás como uma bela flor campestre
E sorrirás enquanto teu coração parte

Terás que me seguir, nunca indiferente
Terás que ser meia dúzia de mulheres
Terás que fazer o que não queres
Serás, então, a sombra da minha arte

Mas que arte tão profana
Quero te ter em minha cama
Para livrar-me dos idiotas do amor

Das minhas crenças o orgulho brota
Como nascesse uma frota
De poetas de alma morta, sem dor

Contente-se, minha cara
Pois nada me fará mudar
Nem o fogo, o vento ou o mar
Pois serei um eterno artista

No egocêntrico fogo do meu ser
Até que meu fogo se apague
E o seu possa então acender

Preciso Comprar Um Coração (1999)

Preciso comprar um coração
Para bater
Enquanto o meu apanha de você

Eu preciso viver uma vida
Além da sua
Preciso ver outra mulher nua

Preciso comprar um coração
Para viver
Enquanto o meu morre sem saber

Eu preciso esquecer que estou
Perto da lua

Preciso saber qual é a tua

Então vou comprar um coração
Pra viver outra paixão
A minha terapia ocupacional

Vou comprar um coração
Pra me ver novamente no chão
Pra me ver novamente normal

Então vou comprar um coração
Pra viver outra paixão
A minha terapia ocupacional

Vou comprar um coração
Pra me ver novamente no chão
Pra me ver novamente normal

Pra me ver novamente normal
Pra me ver normalmente normal

Menino(a) Jesus (ou Chorinho Sacro-Aloprativo) (2008)

Jesus é recifense
E vai ser crucificado
Lá na Rola de Brennand

Psicólogo Forense
E muito assanhado
E por isso sou seu fã

Ele dava lições de amor
Falava de nosso Pai
Ele dizia "ui-ui" "ai-ai"
e curava qualquer dor

Como é bom esse doutor!

Jesus é recifense
E vai ser crucificado
Lá na Rola de Brennand

Psicólogo Forense
E muito assanhado
E por isso sou seu fã

Quando saia de seu quintal
Com Pedro, um prezado amigo
Pelas ruas lá do Antigo
Fazia vinho da água mineral

Andar com ele é a moral!

Jesus é recifense
E vai ser crucificado
Lá na Rola de Brennand

Psicólogo Forense
E muito assanhado
E por isso sou seu fã

Descalço é como ele andava
Com um baseado na mão
Ia salvando qualquer irmão
Que "de baixo" se encontrava

Assim ninguém lembra de nada!

Jesus é recifense
E vai ser crucificado
Lá na Rola de Brennand

Psicólogo Forense
E muito assanhado
E por isso sou seu fã

Ele dizia "eu nada temo!"
Mas muito chorava com o desamor
Então logo ele adotou
Uma franjinha de Emo

Mas que abismo mais extremo!

Jesus é recifense
E vai ser crucificado
Lá na Rola de Brennand

Psicólogo Forense
E muito assanhado
E por isso sou seu fã

Revoltados, seus companheiros
Com a sua emotização
Entregaram o nosso Pai-Irmão
Como uns Judas cabueteiros

Mas que amigos mais fuleiros

Jesus é recifense
E vai ser crucificado
Lá na Rola de Brennand

Psicólogo Forense
E muito assanhado
E por isso sou seu fã

Pela polícia procurado
Sem família para lhe acudir
Logo ele resolveu fugir
Mas de grana estava zerado

Esse Jesus tá arrombado!

Jesus é recifense
E vai ser crucificado
Lá na Rola de Brennand

Psicólogo Forense
E muito assanhado
E por isso sou seu fã

Sem um aparato legal
Sem o apoio dos amigos
Sequer aceito entre os mendigos
Optou pelo seu final

"Numa rola morro legal!"

Jesus é recifense
E foi crucificado
Lá na Rola de Brennand

Psicólogo Forense
E muito azarado
Ainda assim eu sou seu fã

E finalmente ele adormeceu
Lá na pica que emana arte
Assim virando um belo encarte
De um novo disco meu

Definitivamente ele...

terça-feira, 28 de abril de 2009

To te dizendo... (2009)


Porra, bicho, tu ta doido é? Aquilo? Aquilo? Tu chama aquilo de mulher é? Aquilo é um rabujo! Aquilo é uma rapariga, mais rodada que catraca de integração! Tu com ela vai virar um cabeça de guidão, vai virar um “lá vai ele”, aquela porra, se o trem passar por cima e se partir em dez pedaço, o cu vai dar um jeito de encontrar uma rola.

E digo mais tu num vai levar gaia só de homem não... Tu ta ligado, macho, essa porra é Kate Machone, Ana Machidão, cola-velcro, bofelia, botina, buba, monocó, saboeira, entendeu? Ela é entendida, cacete!!! É Alec-fu pra cá, é Alec-fu pra lá, é Chun-li com golpe de Guile, miseravi. Dorme com uma bronca dessas! Tu vai acordar é com o aterramento pronto, nunca mais tu leva um choque, o fio terra vai ser pro resto da vida. Mas tu num é eletricista??? Vai, aproveita, feladaputa! Só assim pra tu ficar rico.

Como é? Ela foi dormir na casa do ex? Biiicho... Tu num é corno pouco não, tu é corno de muito!!! É o que? Ela disse que só foi cuidar do cachorro dele? Eita cachorro importante! Quando ele morrer, chama Chicó e João Grilo pra convencer o padre a enterrar ele em latim... Isso é prosopopéia flácida para acalentar bovinos, eu não deglutia esse batráquio, não! Pode retirar o filhote de equino da perturbação pluviométrica. Você vai se lascar. Ela foi cuidar do cachorro do cara ou o cara foi cuidar da cadela que foi lá? Faz a pesquisa, chama o IBOPE!

Tá na moda, mulher-moranguinho, mulher-melancia, mulher-jaca, até mulher-caviar já tem. Tá vendo? Ela pode ser a mulher-arroz, toda soltinha e todo mundo já comeu.

Venha não, mulé é o cão, meu filho. A gente descobriu a palavra, inventamos a conversa, essas miséra descobriram a conversa e inventaram a fofoca! A gente descobriu o jogo e inventamos as cartas, essas condenadas descobriram as cartas e inventaram a bruxaria. A gente descobriu o comercio e inventamos o dinheiro... Essas porras descobriram o dinheiro e fudeu foi tudo!!!

Mas se tu quer... Vai, quero mais é que ela coma teu cu!

Guma do Mar (2002)

Eu sou Guma...

Eu sou Guma
Que nasceu sem prumo
Que nasceu sem rumo
Só pra se encontrar

Eu sou Guma
Que nasceu sedento
Que nasceu sem tempo
Pra se enganar

Eu sou Guma
Que nasceu com sorte
Que nasceu pra morte
Um dia tentar enfrentar

Eu sou Guma
Que nasceu das forças
De moços e moças
De todo este lugar

Eu sou Guma dos amores
Que nascem serenos
À luz do luar

Eu sou Guma do fogo
Sou Guma dos ventos
Eu sou Guma do mar

Eu sou Guma...

Eu sou Guma
Que está à procura
Que vive a jura
De um dia feliz ficar

Eu sou Guma
Que vive sem jeito
Que têm o defeito
De nunca se rotular

Eu sou Guma
Que vive o momento
Fora do seu tempo
Só para desdenhar

Eu sou Guma
Que vê o futuro
Em cima de um muro
Só para exercitar

Eu sou Guma do passado
Que volta a ser novo
Por não se dispersar

Eu sou Guma do velho
Sou Guma do novo
Eu sou Guma do mar

Amizade Estelar (2000)

Para Frederico Nietzsche

Éramos amigos, hoje estranhos
Nada mais é da mesma forma
Como talvez devesse ser

Mas não devemos ter vergonha
Pois não desejamos nos calar
Muito menos nos esconder

Cada um com o destino já traçado
O meu muito ensaio e pouco enceno
Mas é claro que podemos nos encontrar
E celebrar uma festa, como já fizemos

Esses bravos navios
Que estavam tão tranqüilos
No mesmo porto, sob o mesmo sol

Sem mesmo imaginar
Os seus próprios destinos
Destino que poderia ser bem melhor

Era tão fácil acreditar
Que era um só objetivo
Mas logo aconteceria o pior

A triste separação
Destes bravos navios
Lançados em outros mares, sob outro sol

Talvez venhamos a nos rever um dia
Como esta minha triste vida
De repente me encontrou

Mas creio que não irás me reconhecer
Pois a separação de mares
Muito me transformou

Mas não vejo isso como uma coisa ruim
Era preciso que nos tornássemos estranhos
Para recordarmos de tudo do começo ao fim
E conversarmos como aqui estamos

Portanto, acredite nesta amizade estelar
Pois me diga que nunca na vida erra
Perceba que somos amigos no mar
Mesmo sendo inimigos na terra

domingo, 26 de abril de 2009

Polos de Polly... (2009)

És tu, pequena inocente
Culpada pelos meus crimes de amor
Insolente, crente, nociva
Instalas em meu peito cacos de serpente

Me fodes, como se Ryu e Ken
Me lançassem um hadouken ao mesmo tempo
Da mesma maquina
Da maquina que é teu ventre

Não passas... se passas...
Sei que não paras... apenas és:

Rajada minúscula de brilho intenso,
Ofuscadora de sóis e luas,
Dilatadora de vasos sanguíneos,
Polo magnético contrário ao das flores.

Espaço de menos...
Pra tanto conteúdo.

Não cresce! Não cresça!
Não desapareça.

Triste Partida (2009)

No Bola Pensante:
Esta é uma pequena homenagem ao companheiro de Futebol e Poesia, Andreson Falcão!

Um coração apaixonado parou de bater, talvez por ter batido demais, há aqueles que morrem de tanto viver, de tanto amarem, de tanto se apaixonarem pelo que fazem, por esses as pessoas se apaixonam, pelo que são! Andreson Falcão era um apaixonado, reservado, inquieto em sua tranquilidade.

Assim como um falcão, tinha uma visão privilegiada das ações dentro do gramado, tinha uma visão clinica para os detalhes de uma partida de futebol, uma calma na hora de analisar o que havia de melhor ou pior em cada jogador, em cada equipe, em cada partida.

Lembranças? Lembro-me da simpatia, lembro-me da competência, lembro de que quando eu falava o nome Andreson Falcão, os elogios vinham como uma enxurrada... Lembro-me do grande companheiro de debates e opiniões inovadoras e sensatas... Um verdadeiro comentarista no mundo dos "clowns"...

A partida deste campeonato que é a vida física se encerrou, diferentemente dos campeonatos de futebol, esse nunca tem hora pra terminar, alguns se vão tarde e outros, quase sempre os melhores, cedo demais... Talvez por serem tão bons que não haveria momento adequado para irem, cem anos seria cedo demais.

Eu sei que você vai em paz, mas que não vai descansar... Vai procurar uma emissora cósmica no plano maior e montar uma equipe para cobrir os jogos onde craques como Puskas, Garrincha e Denner darão seus shows... Descansar nunca foi mesmo a sua!

Te invejo, pois agora estais a ver os jogos do anglo mais privilegiado que existe... Assim como um Falcão!

Vai... Um dia voltaremos a nos encontrar!

sábado, 25 de abril de 2009

Utopiadas... (2009)

Quando o genial Thomas Morus imaginava como seria sua sociedade utópica (que, por sinal, seria em Fernando de Noronha) ele não sabia o que era beber uma Coca-Cola. Platão não costumava mandar seus textos através de correntes via e-mail. Muito menos Karl Marx sabia o gosto de um Big Mac. Mas suas idéias têm uma indubitável posição que levam ao bem comum e a justiça social, tudo o que não é relacionado com as atuais tendências globais: globalizantes e engolobadoras. Ouço Platão gritando: sair da caverna é preciso! O problema é a República (dele ou não) que nos espera ao fim da famigerada gruta.

Será a marxista (Leninista, Stalinista, Trotskista ou Gumista, com o perdão pela inclusão de minha utopia), a platônica, a marcuseana (O assassino das utopias)? Qual será a melhor forma de conduzir uma sociedade com autoridade, mas sem opressão, com desenvolvimento juntamente com a divisão justa das riquezas geradas? Será a nossa atual a melhor ou a pior de todas? Existe uma alternativa viável à nossa?

Se eu soubesse, estaria influenciando algum poderoso governante, trabalhando como analista social, escrevendo livros ou fazendo qualquer outra coisa que, definitivamente, não seria um pseudo-trabalho de português de primeiro período de uma graduação.

O que eu sei (interpretando pensadores de verdade) é que quando a forma de conduzir a sociedade centra-se numa base sólida, pensada e construída com conceitos, que inicialmente podem até ser utópicos, mas que precisam ser viáveis na prática, não importa se é uma democracia, uma ditadura ou mesmo uma plutocracia, toda a sua construção política e social também torna-se sólida e consequentemente, bem sucedida. A imagem de sucesso faz dessa sociedade modelo para outras, a imposição torna-se fácil, um império se solidifica e uma nova ordem mundial pode surgir.

Mas assim como o legado de um grande pensador acaba por ser deturpado pelos seus seguidores, todo tipo de governo, quando se é “exportado”, apresenta peculiaridades, distorções e conseqüências relacionadas à melhor ou pior adaptação por parte de seus habitantes. Essa condição faz surgir outras perguntas: de que importa para um império que seus modos políticos, estruturais e sociais sejam seguidos à risca? De que vale o sucesso total de uma nação que pode acabar sendo uma concorrente? Não seria criar uma serpente venenosa no próprio quintal? Creio, humildemente, que sim!

Sejamos claros: o nome que se dá a essa forma de exportação de modos de governo, de vida, de educação, enfim, de sociedade, chama-se globalização. Não há um ser, grupo ou mesmo nação globalizada que se beneficie mais do que um ser (ou mesmo um ente), grupo ou nação globalizadora, pois ela, a globalização em si, é resultado de uma necessidade histórica de liderança. Sua ausência distorce os parâmetros, cria dicotomias que chegam a ser (para as classes dominantes) incômodas e pode gerar incerteza e insegurança.

Soa paradoxal, a partir do momento em que o que move a história é a possibilidade de se praticar o ideal de liberdade, quando um líder, segundo a ótica atual, necessita ser copiado e nunca contestado (a não ser por conceitos de mesma raiz com pequenas peculiaridades divergentes). Mas a história é assim: paradoxal.

Um belo exemplo é a própria burguesia, que é, sem dúvida, a maior força consciente da atualidade, que recebeu o maior elogio que uma classe poderia receber. De quem? De seu maior crítico (ou se os comunistas mais exaltados preferirem, inimigo), Karl Marx (o marxiano, diga-se de passagem) quando ele disse que ela foi a única classe realmente revolucionária na história da humanidade, transformando a sociedade da superfície ao núcleo. E ele estava certo, tanto que até hoje ela colhe os frutos de seu sucesso, impondo uma ordem mundial e institucionalizando cada vez mais seu pensamento fazendo uso de suas duas maiores armas: o capital e a alienação (gerada também por nossa companheira, a globalização).

Podemos pensar em uma alternativa a essa liderança. Mas como ela seria? A minha já não tão humilde opinião me leva a vislumbrar uma liderança, não centralizadora, mas sim divisora de poderes e recursos, que preze não pela dureza dos discursos, mas sim pela ternura que faz das insatisfações um meio de se chegar ao bem comum e não um empecilho para a construção de uma sociedade igualitária. Que preserve não só os direitos básicos, mas também aqueles que dizem respeito à individualidade (e até mesmo à futilidade inerente à nossa condição humana), ou seja: uma sociedade que contemple todas as categorias do sucesso.

Tomando a palavra poética cantarolada por Zé Ramalho: “Aquilo que naquele momento se revelará aos povos surpreenderá a todos, não por ser exótico, mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto quando terá sido o óbvio”!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Gol... (2009)


Acontece, apenas acontece, nem sempre acontece...

Gozo, ápice do prazer futebolístico, espera das massas, a tristeza na outra dimensão, no outro pólo da existência futebolística passiva/ativa. Torcida concretizada, amansada com o fulgor, idolatria a rainha que é agredida com chutes, socos e pontapés e que adora isso, não vive sem isso.

O escarro do goleiro batido, o vôo do goleiro favorecido, o carnaval instantâneo, nem a quarta-feira de cinzas é completamente triste, sempre há o outro lado, a outra dimensão, o outro pólo da existência futebolística passiva/ativa. Gol é amor, Gol é ódio, Gol é certidão de nascimento, atestado de óbito, perda de virgindade.

Um Gol existe antes mesmo de se concretizar, existe no mundo das idéias, todos, absolutamente todos os seres humanos já fizeram o seu Gol, metafísico e, invariavelmente, numa final de campeonato, o Gol decisivo. Nada mais emocionante, nada mais indiscutivelmente enlouquecedor, nada mais atestadamente viciante.

Nada mais existe durante um Gol, nem o banho de cerveja, nem o fedor do torcedor suado que te abraça como se fosse alguém intimo (e na verdade ele já o é) nem mesmo o bandeirinha que levanta seu instrumento querendo acabar com a alegria... perdão, ele existe, ele faz com que os segundos de alegria virem xingamentos, explosões de ódio e sentimento de injustiça...

Mas o que caracteriza um gol? E o que o descaracteriza como uma explosão de raiva, alegria paixão e ódio? Sera Ele um estupro ontológico? Uma oração macabra? Algo que acreditamos ser verdade sabendo que esta mentindo? Algo perdido entre a imensidão e a eternidade? Afinal, o que caralhos e um Gol?

Podem me dizer:

(gol (ô) sm (ingl goal) Esp 1 Ponto ou tento, no futebol, pela transposição da bola nas balizas do adversário.)

Mas só sei que Ele acontece, apenas acontece, nem sempre acontece.

Me lembra Deus.

domingo, 19 de abril de 2009

Seria ?! (ou Frevo da Possibilidade) (2008)


Se ontem fosse hoje
Amanhã hoje seria
Tarda noite... Cê-lo dia
Amanhã? Uma fantasia!!!

Amanhã? Uma fantasia!!!

Ontem era?
Hoje sempre!
Amanhã talvez... Seria
O dia nosso de cada dia

O dia nosso de cada dia!!!

Um Sambinha de Dor em Dor (2008)




Um ser diz: tinto
Outro diz: branco
Se diz melhor
Por não ter a tua cor

Um ser distinto
Outro nem tanto
Quem sabe Al Gore
Presidente do Equador

Ô, presidente do Equador
Presidente do Equador
Ô, presidente!

Se eu penso em amor
Não fico só
Só fico só
Se só penso em amor

Se eu quero um amor
Não tenho dó
É bem melhor
Um sambinha de dor em dor

Um sambinha de dor em dor
Sambinha de dor em dor
Um sambinha...

Um homem limpo
Outro sujando
Não penso só
Em meus planos de salvador

Um homem limpo
Outro tentando
Acaba em pó
O meu sonho de doutor

Ô, o meu sonho de doutor
Sonho de doutor
Ô, meu sonho!

Se eu penso em amor
Não fico só
Só fico só
Se só penso em amor

Se eu quero um amor
Não tenho dó
É bem melhor
Um sambinha de dor em dor

Um sambinha de dor em dor
Sambinha de dor em dor
Um sambinha...

Um homem lindo
Outro se achando
Será a beleza
A medida do auto-amor?

Um homem lindo
Outro maquiando
Qual será melhor
O salvo ou o salvador?

Ô, salvo ou o salvador
O salvo ou o salvador
O salvou, ô!

Se eu penso em amor
Não fico só
Só fico só
Se só penso em amor

Se eu quero um amor
Não tenho dó
É bem melhor
Um sambinha de dor em dor

Um sambinha de dor em dor
Sambinha de dor em dor
Um sambinha...

Um sambinha de dor em dor!
Um breguinha de dor em dor!
Um Axezim de dor em dor!
Um Funkzinho de dor em dor!

sábado, 18 de abril de 2009

Ela e a Chuva (2007)




Eu coloco a roupa
De nada adianta
Sugiro um poema
Que fale da planta

Que queimamos
Na cena anterior

Vasculho sua bolsa
E algo me espanta
Encontro um poema
De Florbela Espanca

Então deitamos
E dividimos o amor

E então o poema
Se torna vivencia
Em minha vida e na sua

Sugiro outro tema
Então vem a dormência
É o frio que vem da rua

Olho o céu nublado
E procuro um abrigo
Pois já vai caindo a chuva

A chamo de lado
Ela não vem comigo
Ela apenas continua, nua

Ela e a chuva
Nuas

Petite Fille du Soleil (2008)


Eclipse Solar
É impossível, Sol
Nesse mundo que você
Me apresentou

Um táxi lunar
Não é preciso, Sol
Pra te levar na estação
Do Redentor

Nem a canção é mais preciso
Nem a manhã nascer azul

Nem Rolling Stones gravar o Black and Blue

Então nada mais
É cabível, Sol
À existência daquele
Que não sente dor

E este sou
Quando estou contigo, Sol
Mas eu não passo
De um compositor

Nem a canção é mais preciso
Ou um Titã nascer no Sul

Nem mesmo o “você”, pra mim, virar um “tu”

Mas não é amor
O que eu sinto, Sol
Pra tentar ser
O teu cantor

Nem vou pregar
Nessa canção em prol
Algo que me lembre
O desamor

Nem vou pregar pelo indeciso
Nem pelo azul dessa manhã:

Eu quero ser o teu herói e ser teu fã!

Surfista Sofista (2004)




Eu sou o surfista sofista
Nadando contra a maré de Platão
Eu sou o surfista sofista
Dropando no mar do sertão

De que me adianta o saber
Se o mundo não liga pra isso
Assim dinheiro eu nunca vou ter
Com o saber eu não quero compromisso

Surfar é o que vou fazer
Com as gatinhas fazer rebuliço
Dropar a onda que aparecer
Com meu ser sofisticado e maciço

O saber é um mar agitado
Que pra dropar, Platão só dificultou
E outros filósofos do passado
Só deram backside do que ele ensinou

Mas na praia, com as gatinhas do lado
De nada importa o que ele falou
Mas sim as ondas que eu tenha dropado
E a ladainha que um sofista ensinou

Mas sei que quando passar um tempo
Surfar eu não mais aguentaria
Da velhice não estou isento
E meu esquema não funcionaria

Mas algo me dá um alento
Pois mais gatinhas eu pegaria
Quando chegar o momento
Serei professor de filosofia

Repatriando Plutão (2009)


Plutão, meu planetinha
Te excluíram da família
Do nosso sistema solar

Eu vou chorar...

De tanta tristeza
Pois tu és a miudeza
Gelada, a nos observar

E você sempre será!

Plutão, meu planetinha
Te excluíram da família
Do nosso sistema solar

Eu vou solar...

Em meu violão
As notas desta canção
Para, assim, te repatriar

Pois você sempre será
Aquele meu planetinha
Onde vou quando a Terra
Já não é mais minha

Onde eu vou quando aqui
Já não há mais
Quem vá me esquentar!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O Mantra e a Fanta (2008)



Sangra
Sangra esse meu mantra
Que querendo salvar, espanta
Espanta e sangra

Sangra
Sangra esse meu mantra
Borbulho cósmico da Fanta
Borbulha e sangra

Borbulha, sangra, espanta e abranda!
Se o mantra vendesse feito Fanta?

Constatação (2008)

Quando a pancada vem de fora

Pode ser do Mohamed de outrora

É possível se salvar


Mas quando a pancada vem de dentro

Não há espaço e nem tempo

Para se esquivar!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Aparição (2009)



Tens o sorriso típico
De quem do mal, se esvazia
És poetisa e és poesia

Tens o sorriso das loucas
Que gargalham de ódio ao dia
E a noite choram de alegria

Que sejas meu manicômio
Que sejas a minha mania

Creio que o mote da hora
Me afastou da escória
Dos poetas que não sabem amar

Vejo que fostes salva, agora
Pelo vilão da historia
E não queres acreditar

Mas não escureça, Vanessa
O sorriso que eu quero pintar

Com as cores
Do amor que deixa
Meu chão mais liso

Ou melhor,
Pintarei o mundo
Com as cores de teu sorriso

Sono (2002)



Hoje eu acordei feio
Feio e apreensivo quanto ao novo dia
Feio e apavorado por estar sem minha guia

Para me guiar pela cidade que tão bem conheço
Para me guiar a mim mesmo, ao avesso
Para me guiar a mim mesmo, o meu amor
Para me guiar a quem, verdadeiramente, sou

Além de feio, acordei lacônico
Laconicamente desbocado
E desbocado sou frágil, até calado

Sou frágil mas ainda assim sou persistente
Sou frágil mas ainda assim sou valente
Sou frágil mas graças a Deus sou infame
Sou frágil mas graças a mim sou petulante

Sou frágil mas sou azul, como Carlos Pena Filho
Sou frágil mas inesquecível, como o velho Capiba
Sou frágil mas sou vermelho, como Che ou Sandino
Sou frágil mas pernambucano, como Chico em sua vida

Sim, isso mesmo, eu não acordei ainda
Estou dormindo, delirando, vendo estranhas formas de vida
Acordando, dormindo, delirando
A qualquer momento, penso que estou pensando

Duvido, logo penso
Penso, logo existo
Existo, logo serei esquecido

Mas deixo a minha mente
Hermeticamente
Aberta
Porém coberta

De uma forma que ninguém possa ver
Mas que todos possam sentir
Como uma piada que ninguém quer entender
Mas da qual todos quem rir

Sim, ás vezes sou poeta
Também um pouco filósofo
Um projeto poético defeituoso
Protótipo filosófico mal acabado

Finalmente,
Um projeto defeituoso e egocêntrico de um imbecil
Um imbecil lacônico e feio