sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Amor de Mordaça: um romance pseudo-beat

Amor de Mordaça - Um Romance Pseudo-beat (João Paulo Güma)

segunda-feira, 7 de março de 2011

Carnaval da Saudade



Ó, Carnaval da Saudade
Não sei a tua idade
Nem teu estado civil

Ó, Carnaval da saudade
Só sei da tua maldade
E de tua força viril

Ó, Carnaval
Por que não passas?
Esvazie essas praças
Como, de minh'alma, o amor

Ó, Carnaval
Quando me jogas desgraças
E, meu desejo, amordaças
Sinto-te meu senhor


Ó, Carnaval da Saudade
Não sei a tua idade
Nem teu estado civil

Ó, Carnaval da saudade
Só sei da tua maldade
E de tua força viril

Ó ,Carnaval
Quando me tiras a vida
Ou me magoa a ferida
És o meu redentor

Ó, Carnaval
Tua paixão reprimida
Por minha vida bandida
Faz de mim seu senhor

Ó, Carnaval da Saudade
Não sei a tua idade
Nem teu estado civil

Ó, Carnaval da saudade
Só sei da tua maldade
E de tua força viril

E de teu amor hostil...
E de teu amor hostil...
E de teu amor hostil!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Amor de Mordaça: O Encanto (Fragmento XIX)



Volto para faculdade no dia seguinte, toda uma história de desilusões levam-me a estar exausto desta luta. Eu a amo como nunca amei ninguém, isso sem nem mesmo namorá-la. Sinto, porém, que não tenho mais forças nem argumentos para investidas, que minha gana e minhas palavras acabaram. 

Sempre fui um homem de poucas palavras apesar do meu tagarelismo constante, mas ela era tão calada que eu achava que se eu ficasse calado, teria menos chances ainda. Sem palavras, minhas chances estariam, irremediavelmente, acabadas. Por coincidência, lendo uns textos de La Rochefoucauld encontro a seguinte frase: “As paixões são os únicos oradores que sempre convencem.” Algo inspirador.

Todavia, cada vez mais o beijo no laguinho mostra-se como um acidente de percurso. Ela não quer mais viver um relacionamento, essa é a verdade. Tão verdade quanto o fato de que ela não gosta de homens e, mais importante ainda, que ela não me deseja, não gosta de mim. 

O desejo não é à priori, nem sobretudo, uma relação com o mundo (que só aparece aqui como palco para relações diretas com o outro). Geralmente é na presença do outro que o mundo se depara como mundo do desejo. O seu desejo, é isso que desejo e não vejo existir oriundo dela, neste palco chamado Recife que torna-se um inferno, Hellcife, como dizem, sem a sua pequena grande presença enquanto um ser que me beija, que me quer, que me ama.

Pelo Grande Deus dos Amantes, que aconteça alguma coisa que nos aproxime, algum milagre sem precedentes que faça com que nossas vidas se encontrem de alguma maneira. Sinto-me, agora, um homem do nada, numa terra de ninguém. Um ser que, sem ela, fica vazio. Eu a quero, eu a quero para sempre e sei que sempre vou querê-la para sempre. Que mal eu fiz para sofrer tanto? Que mal eu fiz para amar tanto?

Dias depois, vou ler uns emails e a encontro online, ela me conta que há pessoas que falam mal de mim para ela, mais precisamente que eu só andava bêbado pelos lugares e dando em cima das amigas dos outros. Ela me pergunta se deve acreditar. Eu, sarcasticamente, respondo que sim. “Quer um conselho? Acredite!”. Essa foi a frase que utilizei para encerrar o assunto. 

O fato é que eu sempre bebi muito, mas nunca fiquei bêbado de verdade. Alem disso, nunca fui uma pessoa de esconder o que penso, sempre falei na cara e olhando nos olhos. Isso é um defeito terrível no mundo falsário e superficial de hoje. A falácia, meu amigos, neste mundo é a lei. Bebendo, a veracidade de minhas palavras alcançava um tom insultante, como bebia demais, falava verdades demais. Insultava demais, sobretudo. Principalmente as pretensas feministas pseudo-moderninhas que não passavam de paradoxais tias velhas fantasiadas de Amelie Polain. Recife é uma Sodoma com ares reacionários.

Já em relação à acusação de eu dar em cima das amigas dos outros, nunca fui de dar em cima de ninguém. Nunca fui de ficar com uma pessoa sem passar um tempo conhecendo-a. Minha higiene é algo que eu preservava. Sou, em suma, um Menino Dionisíaco de Família.

O que percebo é que minha amada está diferente, está preocupada com a pessoa que sou, e, se está preocupada, obviamente existe uma grande possibilidade de estar interessada. Ligo para ela e pergunto o que  sente. Ela demonstra vontade de ficar comigo pela primeira vez desde que tínhamos nos conhecido, isso salva a minha noite. Talvez isso salve a minha vida.

No dia seguinte eu a encontro, vamos ao local do primeiro beijo, conversamos um pouco e ela me diz algo que eu nunca esperava ouvir, não direi agora a tal frase dita por ela por uma questão de suspense, ou seja, foi forte! Depois disso eu a beijo, ela novamente reclama do meu beijo, reclamação que duraria por mais ou menos um mês a partir dali. Ela poderia reclamar por mais um século e eu ainda assim eu estaria feliz. Eu estou feliz, na verdade, eu nunca estive tão feliz em minha vida. Ela está me beijando, ela está feliz em me beijar.

Chega o fim da noite, ela deixa claro que não quer que os seus pais nem seus amigos saibam o que está acontecendo. Eu aceito a sua decisão. Peço-lhe em namoro nesse mesmo dia. Ela dá um sorriso debochado e diz que, naquele momento, não quer namorar comigo. Faço-lhe um confronto com aquilo que ela havia dito dias antes, que não era menina de ficar, e sim, de namorar. Ela retruca dizendo que não estamos ficando, que estamos juntos, mas não estamos namorando. Não me importo, por enquanto, com a definição do que há entre nós... No amor, basta uma noite para fazer de um homem um deus! E eu, ali, diante de patos, gansos, casais sarrando e trepando, era um deus. Pelo menos estava tomado por um: Eros.

(continua...)

Luana (2001)



Lua mais Ana pra mim é Luana
Luana, coitado de quem te ama
Pois aquele que te ama se engana

Pois a Lua e a rua
Me carregam para a tua
Cabana dos desejos

Lua mais Ana pra mim é Luana
Luana, coitado de quem te ama
Pois morre queimado em tua chama

Pois a lua e a rua
E a tua carne crua
Me chamam aos teus beijos

Lua mais Ana pra mim é Luana
Luana, coitado de quem te chama
Para uma noite de amor em tua cama

Pois a noite é só sua
Pois nem Ana nem lua
Teu nome é desejo

A lua mais linda pra mim é Luana

Que me mata de fome
Que me enche de fama
Que me dá uma vida
Deitada em minha cama

Que quando me encara
Faz, de minha alma, insana
Ascende a minha tara
Pela sua foda mais sacana

Pois a noite é só sua
Pois nem Ana nem lua
Teu nome é desejo

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Lu & Ju

Há conscidências extremamente felizes que identificamos quando vamos percorrendo o caminho de nossa vida. Pessoas que encontramos e que, por algo completamente inexplicável, grudam em nossa alma, mesmo que sua presença seja rara. Esse singelo texto é para duas dessas pessoas, as duas mulheres que mais gostei de ter conhecido no ano passado, que, por um acaso nasceram no dia 21 de Fevereiro: Luísa Cardoso e Juliana Casanova.

A primeira, Luísa, é de uma caoticidade florida de fazer qualquer homem (ou mulher) se apaixonar. Tem uma sensibilidade invejável aliada a um pavio extremamente curto. É uma espoleta chorona que faz com que sua ausência traga à vida do outro um tédio de uma fuderosidade implacável. Ela poderia ser isso tudo sem ser, esteticamente, perfeita... o problema é que ela é a mulher mais gata que eu já conheci. Um dia escrevi isso pra ela:

Menina-sorvete
Derrete-se frente ao belo
Frente ao espelho
Frente ao mar de gente
Que a observa
 
A segunda, Juliana, é uma raposinha nata! É do tipo de mulher que transparece uma falsa ingenuidade que consegue seduzir qualquer um... principalmente aquele que percebe que, de ingênua, ela não tem nada. É de um sorriso cativante, principalmente quando está bêbada, e de uma timidez capaz de tocar fogo em qualquer assexuado.  Ela também foi minha inspiração (e expiração, não posso negar) em alguns momentos... esse, por exemplo:

A minha menina azucrina
Meu solitário viver
Meu solitário querer
É, quiça, minha vacina

Contra a tristeza que ela
Só ela
Pode diluir
Em seu mar de virtudes

Até que meu peito confesse que ama
Cansado de sua vida cigana
A mais bela Juliana.
 
Enfim... feliz existência para as duas! Aniversário passa muito rápido!

Memórias de Um Amnésico Quase Recifense: Cap II - As Primeiras Vezes (Parte 2)



NARRADOR: E ela se foi, antes mesmo de fecharem o caixão. E eu fiquei ali com os meus demônios, com a culpa que eu, antes, sentia levemente e que, agora, era quase uma regra em minha consciência. Foi estranho ver o caixão ser fechado, ver as feições desesperadas de seus pais, mas a pior parte foi quando o caixão desceu ao túmulo, e quando as pás de terra começaram a serem jogadas. Sete palmos de terra para que o cheiro de sua morte não incomode as pessoas que por ali passem. A vida é estranha... um dia você pode ser a alegria de uma família. No outro, alguém que precisa ser enterrado. Enfim, a última pá de terra. Está tudo acabado. Vou embora com a esperança de que a “Canção da América” esteja certa. Que um dia voltemos a nos encontrar.

NARRADOR: Voltando do funeral, decido me trancar em meu quarto. Decisão que seria inteligentíssima, caso, meia-hora depois, meu irmão, com quem divido um beliche, não chegasse da escola. Estamos numa quinta-feira, 28 de Abril. Vou para a sala, ligo a TV para assistir o noticiário de esportes, e vejo um dos acidentes mais impressionantes que eu já havia presenciado, o de Rubens Barrichello, nos treinos livres para o Grande Prêmio de Ímola.

PAI: Puta merda! Como é que ele sobreviveu?

MÃE: Filho!!!

NARRADOR: Minha mãe, como vocês podem ver, não era muito fã de interjeições exaltadas...

GIOVANNI: E ele sobreviveu?

PAI: Não sei como, mas sobreviveu.

NARRADOR: Esses momentos eu aproveitava como poucos: as possibilidades de conversas com o meu pai em meio de eventos esportivos. Talvez a única coisa sobre a qual eu sabia, ou pelo menos achava que sabia, conversar nessa época.

GIOVANNI: Bicho sortudo.

NARRADOR: Nesse momento pensei como a vida era tragicamente engraçada, uma pancada, jogando bola, e um amigo agora está morto. Uma batida a 300 por hora, trinta e cinco mil capotadas, e o Barrichello está andando e conversando lá na Itália.

PAI: Você já pensou como a vida é?

NARRADOR: E acho que o meu pai também tinha essa sensibilidade...

PAI: Mais de um milhão de dólares num carro desses pra se espatifar todinho numa corrida.

NARRADOR: É... ninguém é perfeito!

GIOVANNI: Vou voltar pro quarto, me chamem quando esse almoço sair!

NARRADOR: O meu quarto é o melhor lugar do mundo para se saber o que ela está fazendo agora. Na verdade, o melhor lugar do mundo é o quarto dela, mas, do meu, era possível ver, pelo menos, a janela de seu quarto. E lá fiquei, até o momento em que ela saiu. Sozinha. Mas eu faria com que isso fosse por pouco tempo...

GIOVANNI: Mainha, painho, tô descendo, daqui a pouco eu volto.

MÃE: Nada disso, vamos almoçar agora!

GIOVANNI: Daqui a pouco eu vou...

MÃE: Você vai me levar uma surra se não vi...

NARRADOR: Poderiam me amarrar num tronco em me dar 500 chibatadas, eu tinha uma missão a cumprir, uma meta a atingir uma...

CAROL: Ai, Serginho... eu tô tão triste...

NARRADOR: Coisa para ver!

SERGINHO: Você pode contar comigo, mocinha. Tô aqui para isso.

NARRADOR: E estava mesmo, Sergio Machado, o marginal loiro da rua, muito mais velho que nós dois, abraçado com ela, fazendo carinho em seu pescoço, alisando seus cabelos, enxugando suas lágrimas. Falando bem baixinho em seu ouvido. Passando a experiência que só quem tem 15 anos é capaz de ter. Uma cena romântica que eu, sinceramente, não merecia apanhar para ver... e por falar em surra.

MÃE: Venha cá seu teimoso, eu não disse que era pra almoçar?

GIOVANNI: Mãe, não fala alto aqui não... por favor!

MÃE: Como é? Você tá me dando ordem? Vou fazer um favor pra você... vou te dar uma surra bem dada pra aprender a me obedecer!!!

NARRADOR: E, antes que eu me esqueça... eu amo a minha mãe!

(continua...)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Vai Dar Rocky?



Candeias/Dois Irmãos... E eu reclamava do Rio Doce/CDU! Esperar uma merda de um ônibus que só passa uma vez, em Noite de Lua Cheia, não é vida pra ninguém! Mas é o jeito... andando até a Cidade Universitária é que eu não vou! R$ 3,10! Isso mesmo, uma cerveja, na verdade três Cervejas Frevo em Jorge, pra me locomover pra maldita "cidade" da qual tento sair desde que entrei! Putamerda, isso não vai dar certo!

Enfim... maldito seja! Mas ele, o maldito, chega! Pelo menos não chega lotado, um lugarzinho na janela... maravilha! Vão entrando os passageiros, uma mistura de trabalhadores cansados com estudantes em férias procurando algo pra fazer. O ônibus vai ficando cheio, vão sendo tomados os lugares e o que fica ao meu lado ainda vazio. Olho para a pista, através da janela, e vejo uma loira linda, falsamente magra, angelicalmente sedutora, vestindo uma bermudinha elegantemente curtinha e uma blusa de uma cor que homem que é homem não sabe dizer! "Meu lugar está vago!". É isso que desejo falar mirando-lhe um Olhar 43 (aquele assim, meio de lado), mas, a impressão que o rapaz à sua frente é seu namorado me impede de fazê-lo. Feliz ou infelizmente, essa impressão é dissolvida quando o tal cara vai para a parte de trás do ônibus e ela senta ao meu lado... não tão perto quanto eu desejava, mas na outra cadeira, separados pelo corredor, mas no campo de visão, pelo menos!

Tudo bem... eu poderia ter agido, eu poderia, mesmo com ela sentada na cadeira ao lado, chamá-la para dividir um pouco da viagem comigo, mas algo me impediu! Tudo bem, eu tinha passado a tarde e parte da noite tomando cervejas com um amigo, avistei duas mulheres sozinhas no bar, pedi um cigarro arregado e joguei mais uma pala cheia de olhares penetrantes e palavras que fazem a alma feminina ficar nua. Logo ela me convidou pra sentar ao seu lado! Ora, ora... uma pseudo-louqinha da praia de Candeias teria mais coragem do que eu? Sim... neste caso, sem dúvida!

Não foi falta de coragem, tenho de me defender: foi falta de disposição! A Fase do Urubu já está chegando ao fim, o mundo tira a metralhadora de suas mãos e te dá um fuzil de longo alcance... os tiros têm de ser certeiros! Nada de rajadas! Ela está ali, o lugar dela está aqui, e eu... eu não quero gastar energia! A próxima parada pode ser melhor, quem sabe... e ela chega!

Temos, mais ou menos, cinco lugares vagos no coletivo... cinco pessoas entram no ônibus! A primeira passageira, uma senhora de uns 45 anos, senta-se exatamente atrás da minha Honorável Musa Dourada. A segunda, uma mulher com seus 30 anos senta-se na cadeira imediatamente atrás da minha. A terceira pessoa a entrar no ônibus é um adolescente cheio de espinhas que decide ir para uma cadeira na parte de trás do ônibus, longe de mim, por sorte! O quarto... ou melhor, a quarta, ele... ele... ele é ela! Entende? Um travesti com um trapézio à lá Victor Belfort, mas com seios e pernas estilo Mulata Globeleza. Ronaldo faria a festa, mas eu não tô muito afim de passar uma hora de viagem sentindo aquele cheiro misturado de homem e mulher! 2 lugares... 50% de chance da minha viagem ficar umas 2 horas mais longa, psicológicamente falando, é claro! Ele(a) olha pra mim, olha pra cadeira e, por algum motivo inexplicável, decide sentar-se um pouco mais atrás... felicidade! Mas, por um segundo, eu me pergunto: por um acaso eu tô cagado?

Só existe um lugar no ônibus vago, exatamente o que fica ao meu lado! Caceta... será que eu apareci em Cardinot? Será que eu pareço com algum fugitivo da polícia? Enfim, tudo isso é amenizado pela última passageira a entrar, uma morena, baixinha, com um cabelo curto, liso, seios proporcionalmente fartos, pernas suculentas, olhar de Tigresa Caetanovelosesca. Só há o meu lugar, mas, antes dela passar pela catraca, me pergunto: e se ela preferir ficar em pé a sentar ao meu lado, como eu fico? Percebo que, no estado em que me encontro naquele momento, o sentar ou não de uma morena pode me levar à depressão.

No momento em que penso em depressão, lembro da pseudo-louquinha gostosinha que eu havia conhecido mais cedo, me dizendo que era depressiva e que haviam indicado um remédio para depressão que diminuia a ânsia de fumar cigarro e aumentava a libido. Puta que o pariu!!! Esse remédio salvaria meu último namoro. Eu, sem dúvida, compraria esse tal remédio para a minha, então, namorada-múmia depressiva e frígida.

Ela passa a catraca, ela olha pra mim, nunca os passos de uma mulher foram tão demorados, mesmo que, de todas as pessoas que haviam entrado no ônibus até aquele momento, ela tivesse sido a mais rápida e mais decidida... sim, ela sentou! Sentou com propriedade, sentou decidida a estar... a estar... a estar sentada! E que morena... em pé ou sentada!

São, aproximadamente 5 minutos de alegria extrema e de preparação para o ataque... porém, toda vez que me proponho a puxar assunto com a morena, acabo olhando de relance a loirinha angelical, que se contrapõe (e eu gostaria que, junto a mim, se sobrepusesse) à morena deliciosamente infernal. Sinto a bilateralidade dos sentimentos de uma forma insanamente intensa: estou de pau duro por uma e de coração derretido por outra!

Eis que a minha alegria recebe um baque, sobe um pai com um filho de, aproximadamente, quatro anos em seus braços. Torço para que alguém tenha a sensibilidade de oferecer o lugar, mas isso não acontece. Levanto e peço para que ele sente em meu lugar. Fico, então, em pé ao lado da Morena Libidinante. Eis que Deus, numa relação de troca direta ou premiação à bem-feitoria anterior, me dá uma das melhores visões da história da minha vida: o decote dos seios mais suculentos que minha memória me deixa lembrar.

Passo uns dez minutos ali, dando pequenas grandes olhadas naquelas obras divinas supervisionadas e planejadas pelo demônio, mas sinto saudade de algo mais existencial, menos carnal, estou com saudade da Divina Galega Jubilante a qual tive que dar as costas. Além de tudo, a gradativa ocupação do ônibus vai diminuindo meu campo de visão. Decido ficar em pé em outro local, de forma estratégica, onde dê para que eu veja os dois motores de meu desejo, ao mesmo tempo, numa bigamia secreta, profana e ontológica, onde só eu sei que me casei com as duas e onde nenhuma delas sabem que estão casadas comigo.

Pela dinâmica da ocupação dos espaços, percebo que não poderei ter as duas no meu raio de visão, decido, por uma questão de justiça, ter a loirinha em minha alça de mira. Já tinha visto a morena demais, nossa relação já estava se desgastando, é bom mudar um pouco de ares. Que graciosidade, ela vai pegando as bolsas de cada pessoa que se encontra próxima a ela, com uma voz suave, linda de se ouvir, e um sorriso educado e sereno... ela é um amor... ela é um anjo... ela é Deus! Penso novamente que estou cagado! Ela pega as coisas de todos, mas eu, que estou praticamente na sua frente, sou ignorado em sua intenção de ser a Boa Samaritana Carregadora de Bolsas. Penso logo: Ela é lésbica... ela é depressiva... ela é frígida... ela é Deus!

O ônibus vai se esvaziandoe e a minha visão começa a ficar mais privilegiada, percebo que a galega começa a olhar para mim numa constância cada vez maior. Não sei se é interesse ou se é pelo medo de ter um cara em pé, perto dela, quando há quase uma dezena de lugares vagos dentro do ônibus. Me toco e abdico da facilidade de ter a visão das duas separadas apenas por um movimento dos olhos. Volto a me sentar ao lado da morena, só que, desta vez, ela já havia assumido o posto da janela e eu fiquei, literalmente, entre uma e outra! Para quem olhar? Com quem devo conversar? Quem devo amar? Percebo que o tempo passou depressa, tão depressa que quase desejei que o travesti chegasse perto de mim para que o ritmo do tempo diminuisse um pouco mais... enfim... pergunto as horas para a morena... 20:59. Pergunto se ela sabe se o ônibus entra na General Polidoro, ela diz que não sabe, pois, assim como eu, não pega esse ônibus.

E é isso! Nada de olhares penetrantes, nada de palavras enudecedoras de almas, pior, o ônibus chega ao meu destino. Antes de descer, meio que tento me despedir da morena e olho, meio que de relance, para a galega, que também olha pra mim. Desço do ônibus e olho para aquela loirinha radiante, que também olha pra mim. Aceno com um "tchau" bem discreto e ela abre um sorriso que eu nunca mais vou esquecer, como se me perguntasse "por que você não fez isso antes?".

Coube a mim responder-lhe com um olhar que dizia "até a próxima viagem!".

Pois é... não deu rocky!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Vulva-Morena


Menina morena
Morena do sorriso de sonho
Sonho intenso de menina
Menina minha em sonho

Sonho meu, levado menino
Menino teu, na realidade
Realidade sou eu sem você
Você, minha inédita saudade

Saudade morena, morena, morena...
Morena pra me ter na tua...
Tua vulva pra me ter, só minha...
Minha rainha...

Rainha minha...
Minha Raizinha...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Heroísmo Perverso



Batman... Coringa! Super-Homem... Lex Luthor! Wolverine... Dentes-de-Sabre! Lula... Fernado Henrique Cardoso! É quase que inerente à condição humana (e à eleição de heróis) a escolha de alguém  para ser o vilão da história, seja no mundo real ou na literatura (e nem venham me dizer que HQ não é literatura!). Mas o que faz de alguém herói ou vilão? Será que o policial que mata um trombadinha por ter roubado um celular é o herói? Será que o Batman, por perseguir e espancar frequentemente um doente mental traumatizado, merece os louros de uma vitória ética?

Na literatura, os bons escritores sempre procuram dar uma justificativa para as ações inadmissíveis dos vilões, ora ilustrando a estória com algum fragmento traumatizante de seu passado, ora dando ao leitor a idéia que o personagem em questão tem um ótimo (ou grande, para os politicamente corretos) motivo para vingar-se de algo ou de alguém. Os maus escritores encontram uma maldade congênita e nos empurram de uma forma quase mentalmente estupradora. Os heróis, geralmente, têm um único motivo para combatê-los: eles acham-se eleitos para fazê-lo. Simples assim!

Não quero ser "do contra", apenas quero provocar uma autocrítica em relação ao papel ontológico do herói e do vilão. O primeiro serve como uma espécie de exemplo para os que, de uma forma ou de outra, são omissos em relação a "maldade" alheia, sintam-se culpados e passem a agir (vide os linchamentos e os assassinatos motivados por vingança). O segundo, o vilão, tem um papel muito mais escroto, ele é o elemento  no qual a sociedade mira seus olhares de desgraça e ódio, é aquele que faz dela mais hipócrita do que ela já é, pois, a partir do momento em que há um vilão, todos acham-se heróis, pois não agem como o ser em foco. Parem e pensem no estrago que a figura do vilão pode fazer... um ladrão, diante de um estuprador, pode se achar um herói; um estuprador, diante de um assassino, pode achar o mesmo; um assassino, diante de um político corrupto, pode pensar da mesma forma!

Sim, é isso, o coitado do vilão foi feito para se foder! Já não basta ele pagar, de maneira justa, pelas suas ações cometidas, ele ainda é culpado pelas desgraças além-crime, além-vida, além-morte. Todo vilão recebe a carga de toda a maldade existente nele e, principalmente, nos heróis de plantão: nós mesmos! 

Apresentados os argumentos, quero fazer um questionamento: quem, dentre vós, nunca torceu para que o vilão saísse são e salvo dos ataques da lei, mesmo indo contra toda a "ética" ensinada pelos nossos pais e professores, apenas pelo fato dele(a) ser simpático(a) aos seus olhos? Quem?

Para bom entendedor, meio artigo já basta!

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Amor de Mordaça: O Encanto (Fragmento VIII)



Ululantemente, com o passar dos dias, uma aproximação gradativa vai acontecendo. Eu quero retirar dela e de mim as mordaças, colocadas pelo medo e pela insegurança dela. Quero gritar e viver o amor que sinto. Não sei se, tal como Cícero dizia, o amor é o desejo de alcançar a amizade de uma pessoa que nos atrai pela beleza. O que sei é que quero ser e fazê-la feliz e preciso, óbvio, de sua ajuda para alcançar esse objetivo.

Por sorte, seu cangote se transforma num local onde visito com minhas narinas e lábios numa freqüência cada vez maior. Ela diz que meu ato é inapropriado, mas sinto que ela gosta do meu toque, ela confessa, inclusive, que sente saudades, não de mim, mas de meus abraços. Após dizer isso ela sempre dá um Sorrisinho Sarcástico de Maconheirinha Imatura que só ela sabe dar. Vou sentindo o iceberg derretendo aos poucos, até o dia em que a chamo para ficarmos juntos num lugar mais tranqüilo, num lugar que não era, mas ao mesmo tempo era, só nosso. O laguinho da universidade.
 
Já é noite, acontece uma calourada ao longe, conversamos por um bom tempo, tento me aproximar, mas tenho medo de avançar demais, de, tal como Baggio, cobrar o pênalti nas alturas. Bons pênaltis são cobrados às vezes no meio do gol, rasteiro e devagar. Basta o goleiro não defender. Basta você prestar atenção para que lado ele vai cair. Percepção, frieza e instinto: essas são as qualidades de um batedor perfeito. 

Modéstia a parte, bolas paradas sempre foram a minha especialidade, e pênaltis, o meu virtuosismo supremo. A sorte é conseqüência da competência. O fato é que eu estava, realmente, prestes a bater um penal baseado apenas no instinto. E o faço: em meio a nossa conversa roubo-lhe um beijo.  

O beijo é parcialmente correspondido e duplamente criticado. Primeiramente ela o critica pelo fato de ter acontecido, segundo pelo fato de que, para ela, eu não sei beijá-la da maneira que ela gosta. Continuamos nos beijando, ela, com o tempo, passa a criticar apenas o fato de eu não beijá-la bem. “Você não aprende!”. Essa foi a frase mais escutada por mim naquela noite. Ela diz que não estava preparada para um beijo meu, que não era para aquilo estar acontecendo, que ela não sabia se estava gostando ou não, que não sabia quais seriam as conseqüências daquele ato. De qualquer forma, ela continuou me beijando, continuou reclamando de meu beijo e eu, tentando beijá-la da forma que ela gostava. Eu estava em órbita. Eu era o seu satélite. E ela sequer beijava bem. 

Digamos que fechei os olhos, chutei, a bola bateu nas duas traves, nas costas do goleiro e entrou. Essa bendita noite, infelizmente, chega ao fim, mas eu saio dela achando que consegui o impossível. Esse beijo torna se um divisor de águas em nossa relação, a convido, no fim de semana, para sairmos e conversarmos mais um pouco. Obviamente que, dessa vez, eu deixei claro que significaria algo se ela aceitasse. Depois de insistir, consigo sair novamente com ela. Contudo parece que ela se transformou numa outra pessoa, parece que o gelo voltou a tomar conta desse coração, mas sinto que tinha sido o medo, receio de se relacionar novamente, de se machucar novamente, enfim, temor de uma nova desilusão.  

Puta que o pariu, e eu? No espaço de um ano tive três enormes desilusões, incluindo meu casamento. As desilusões já faziam parte de minha história, mas eu estava ali, buscando minha felicidade, e nem me venham com aquele papo de que não se pode depender de outros para ser feliz. “Para mim, o maior suplício seria estar só no paraíso”, assim disse Goethe, numa das frases mais felizes de um pensador até hoje. Precisamos uns dos outros para que sejamos felizes de verdade, a felicidade solitária não passa de uma boa auto-resolução recheada de auto-enganação. Os que crêem não necessitar mais do outro se tornam (ou já são) intratáveis! 

Eu preciso dela para ser feliz, fato! Outra coisa evidente é que, durante esse nosso encontro, ela não me beija, foge de minhas investidas como o diabo da cruz. Lembra-me por alguns instantes a moça que odiei semanas antes no bar da  Rua da Moeda. Tento insistentemente trazê-la até mim, tento fazer com que aquele beijo se repita, tento fazê-la sair novamente da Profana e Estorvante Cabana do Medo. Local onde ela fazia morada após suas relações doentias com pessoas doentes, ridículas e ingratas. Fica bem claro, com todas as reações demonstradas desde o momento em que eu a conheci até aquela hora, que ela se trata de uma doente (afinal, o medo é uma doença), mas não me parece ser nem ridícula, nem ingrata. 

Depois de algum tempo ela revela que contou sobre o nosso beijo para o tal amigo da Noite da Discórdia e para o seu primo (que tempos depois descubro serem um cara que é afim dela e um viadinho, respectivamente), além de ter dito a sua amiga sapatão e a outra amiga (que descubro tratar-se também de uma outra lésbica apaixonada por ela).  

O resultado havia sido desastroso. “Você é lésbica, lembre-se disso!”, assim ela havia sido recriminada por eles (exceto, óbvio, pelo rapaz, a quem não interessava a continuidade de minha amada no planeta das “entendidas”) que todos haviam achado um absurdo. Confesso com todas as letras: um ser homofóbico começa a nascer em mim.  

Ela também revela mais detalhes sobre a depressão da qual ela sofre. Que toma remédios um tanto quanto pesados e que isso afeta o seu humor de uma forma considerável. Mais uma depressiva em minha vida, por sinal. Começo a achar que todas as mulheres do mundo sofrem desse mal. Começo a realmente perceber que a missão é mais dura do que eu imaginava. Na verdade, a mais dura que eu já havia enfrentado. Mas eu não estava disposto a perder por W.O. 

Eis que a noite e o encontro acabam, antes de ir embora, eu a abraço, dou lhe um beijo em seu Pescocinho de Algodão-doce, e digo-lhe, ao pé do ouvido, que a amo e que nunca vou desistir desse amor. Tudo isso sob a vista de seu pai, o qual eu não havia percebido estar ou não perto o suficiente para escutar o que eu tinha dito, da forma com a qual eu havia dito. Foda-se!

Depois do tal encontro, volto para a casa dos meus pais, deito em minha rede, volto a assistir alguns episódios de “Wonder Years”, volto a derramar algumas lágrimas, não só por causa da série, mas por algo que aperta o meu peito como se fora uma imagem de um coração esmagado por uma mão branca, tal como está exposta em seu perfil no tal site de relacionamento onde comecei a ter quase conversas com ela. O lance é que retomo à melancolia do outro dia e sofro por achar que algo me diz que o sonho acabou. Que o juiz anulou o gol.
(continua...)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Sopro de Dragão



Há pedras no chão:
Calçada na rua!
Há homem na lua
Que explicação?

Há pedra na mão
E a dor continua
Amor que não flutua
Não vira canção

Sopro de dragão
Na olhada crua
Não há amor que exclua
A manifestação

Nem homem no chão
Nem calçada na lua
Nem o ódio pontua
A contestação

O "porém" do "então"
A mentira da jura
A dor que perdura
Na exaltação.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Amor de Mordaça: O Encanto (Fragmento VII)

 
Ao sair de meu claustro, acontece algo que eu não esperava, percebo que ela estava preocupada comigo, com saudade, quiçá! Quer saber se eu estou vivo, por onde eu ando, o que aconteceu comigo. Sem dúvida, o tempo é o que se faz e o que faz com que tudo se faça.

Havia, entretanto, uma questão: ela possuía o número de meu telefone e, por algum motivo, não ligou para mim durante o tempo em que passo afastado.  O fato é que ela, novamente através da internet, entra em contato comigo. A questiono pelo fato dela não ter me ligado, ela diz que não sabia se era para ela ligar. Não sabia... E pronto.

Tenho a consciência de que tê-la será um sonho, será um êxtase. Porém me coloco de uma forma diferente diante do sofrimento causado por suas reações evasivas que, conseqüentemente, fazem-me sofrer. Para encontrar encantos no êxtase é imprescindível que o desejo seja incitado por estorvos, estado de êxtase contínuo significa o não-êxtase, aquele que nada tem a almejar é com certeza mais infeliz do que aquele que sofre. Eu sofro, mas para ser, adiante, feliz. E, sem dúvida, já está na hora de sê-lo!

Depois de algumas conversas consigo convencê-la a sair comigo sem escolta, e, graças a Deus, ela aceita. Depois de muita relutância, diga-se de passagem. Ela, antes de aceitar meu convite, me pergunta se significaria alguma coisa, caso ela aceitasse sair comigo, sozinha. Eu digo (evasivamente, é óbvio) que significaria que ela queria sair comigo.

A obviedade do que digo vela a percepção clara que eu tinha de que ela não queria, de forma alguma, me dar esperança alguma, em momento algum. Isso era constante, em cada troca de palavras, em cada troca de olhar, ela atuava de forma devidamente evasiva e desencorajante. Mas eu entro no jogo  e entro para ganhar, não desisto em momento algum. O homem feliz é aquele que consegue transformar as ilusões do bel-prazer em realidades. E é isso que eu quero ser: feliz pra caralho!

Marcamos, então, mais tarde nos encontrarmos e conversarmos, sem compromisso e é o que acontece. Nos encontramos no shopping do dia fatídico, da noite da discórdia. Conversamos, damos belas risadas e mostro o que escrevi durante o tempo em que estive isolado, revelo que ela me inspirou a escrever tudo aquilo, revelo que ela é a minha musa, que ela é, realmente, aquela que amo.

Ela me revela, dentre outras coisas, que não quer mais ter nenhum tipo de envolvimento com ninguém, revela que eu não tenho chance alguma com ela, revela, inclusive, que prefere, pior, só gosta de mulheres, o que me fez sentir menos credenciado ainda nessa luta. Coisa que eu já havia desconfiado e, de certo modo, insinuado em momentos pontuais.

Ela pede para que eu não perca tempo, que eu faça um investimento numa amizade com ela ao invés de ficar sofrendo por um amor impossível de se conceber. É claro que não sigo o seu conselho. Queira só o que podes, e serás onipotente. Esse é a frase que resumiria bem seus argumentos. A conversa se segue e eu continuo a deixar bem claro que iremos ficar juntos, que não vai adiantar ela fugir.

No meio disso, ela me fala que tem trauma em relação a bebidas. Que nunca namoraria uma pessoa que bebesse. Posteriormente ela revelaria que tudo se dava por conta de um tio querido seu que havia morrido (na verdade se suicidado) por conta, ou melhor, através de bebidas.

O fato é que o homem havia bebido até morrer (“my hero”) pela pressão recebida, oriunda de sua família, principalmente, após assumir a sua homossexualidade (retiro, em partes, o que disse). Ele não suportou as mordaças colocadas nele pela sociedade, pela sua família, principalmente por sua mãe.

Eu também possuía uma mãe opressora, nem quero imaginar como seria a minha vida se eu fosse gay, usuário ou viciado em drogas. O inferno que seria a minha existência. Por muito menos fui expulso de casa três vezes. Após ela falar a tal história, a olhei nos olhos e disse-lhe que, a partir daquele momento, eu não beberia mais (já que a possibilidade de eu me agarrar com um homem era, obviamente, desnecessária de ser cogitada). Ela me manda fazer isso por mim e não por ela. Eu respondo que faria isso por nós, pelo nosso bem-estar.

Ela abre um sorriso de quem está começando a ser conquistada, mas logo volta a se esquivar de minhas investidas. A noite acaba de uma forma tranqüila e mais tranqüilo eu vou ficando, vou percebendo que, como diriam os latinos de língua espanhola, “si, se puede!”. A esperança começa a vencer o medo dela e a minha tristeza.
 
(continua...)

Guerreira Dourada (2002)



Meus Heróis
Morreram muito cedo
Vítimas daquilo
Que mais tenho medo

Mas eles vão chegar
Os alquimistas
Os anarquistas
E vamos ressuscitar

Mas um dia pensei
Que descobrir um novo mundo
É missão para poucos
É missão para loucos

De certo, acertei
Eu não sou um vagabundo
Sou como os poucos
Sou como os loucos

Por isso saiba, então
Te incubo da missão
De clarear minha visão

Bela guerreira dourada
Invada minha morada
E destrua minha televisão

Assim, sem hesitação
Chamarás minha atenção
Com seu sabre em mãos

Nunca fique fascinada
Nunca fique calada
E me ajude na canção

Pois eles vão chegar
Os alquimistas
Os anarquistas
E vamos ressuscitar

Memórias de Um Amnésico Quase Recifense: Cap II - As Primeiras Vezes (Parte 1)

NARRADOR: Não é novidade para ninguém que para tudo na vida há uma primeira vez. O primeiro beijo, a primeira surra, a primeira pipa, o primeiro filho ou mesmo a primeira briga na rua. A verdade é que esses pequenos momentos, inesquecíveis ou não, vão, de certo modo, formando o nosso caráter, a nossa personalidade. Pois bem, eu, Giovanni Fontes, estou aqui, pela primeira vez, na capela de um cemitério, vendo, pela primeira vez, o velório de alguém. Como se não bastasse, é um amigo que está ali, deitado. É o meu primeiro amigo que morre. Não adianta fazer cócegas em seus pés ou colocar algo em seu nariz. Ele não vai reagir, não vai se levantar. Ele está morto. Irredutivelmente morto. É a primeira pessoa morta que vejo em minha vida, seja ao vivo, pela televisão ou em pesadelos. O pior nisso tudo: sinto-me, pela primeira vez, morto por dentro. Crianças não deveriam morrer. Ele era jovem para o rock’n’roll, para morrer, então...

PADRE: A vida nos reserva surpresas. Algumas boas, outras não. Nunca esperamos a morte, muito menos a de alguém tão jovem. Mas Deus sabe a hora certa de chamar os seus filhos para a sua morada...

NARRADOR: Enquanto isso, Pinochet...

PADRE: Fernando agora encontrou-se com o nosso Pai...

GIOVANNI: Não tenho saco pra isso, Van. Vamo sair daqui.

VAN: Que triste, né? Um dia desses jogando bola com a gente, e agora...

GIOVANNI: É...

VAN: Desde quando vocês se conheciam?

GIOVANNI: Não sei bem... nunca parei pra pensar.

NARRADOR: Mas eu parei e pensei... eram cinco anos de uma amizade tranqüila e sem cobranças, de brincadeiras na rua, de incríveis batalhas futebolísticas em nossas ruas esburacadas, fosse no sol forte ou na chuva torrencial. Tudo aquilo acabaria ali...

VAN: Aquela ali não é Carol?

NARRADOR: Não nos víamos desde o momento da notícia da morte de Matutinho, quando estávamos em minha casa, prestes a pedir um ao outro em namoro... eu acho. Eu estava com medo de chegar mais perto, medo de estragar tudo dizendo a coisa errada ou sendo inconveniente. Mas é lógico, eu seria tão burro para fazer algo como...

GIOVANNI: Oi, Carol... acho que temos um assunto para terminar...

NARRADOR: Ser insensível num momento como estes!

CAROL: O quê? Isso é hora de falar sobre isso? Você só pensa em você mesmo! Esquece o que eu te disse ontem! Me esquece também, tá?

NARRADOR: Parabéns!

GIOVANNI: Mas, Carol...

CAROL: Mas Carol, p...

NARRADOR: Acreditem, mesmo num subúrbio do Nordeste brasileiro, palavrões entre meninos e meninas com 12 anos ou menos, em 1994, ainda eram raros!

CAROL: Coisa nenhuma! Além do mais, ele morreu por sua culpa!

NARRADOR: Nesse momento, uma bomba caiu por sobre a minha alma. Todas aquelas pessoas chorando, sofrendo com a perda de uma pessoa jovem e querida, era tudo minha culpa? E Deus? Onde estava nessa história? E... como assim, culpa minha?

GIOVANNI: Como assim, culpa minha?

CAROL: Você disse que queria que ele morresse, lembra? E disse isso bem alto! Quem garante que um anjo não disse “amém” naquele momento em que você falou isso e realizou o seu desejo?

GIOVANNI: Mas...

CAROL: Não quero mais ouvir a sua voz, não quero mais te ver, quero que você morra, também! Entendeu? Eu quero que você morra!

NARRADOR: A lógica adolescente é algo que desafia os mais competentes e geniais filósofos. Os seus tratados de causa e conseqüência ultrapassam a metafísica, chegando a mais pura, absoluta, soberana e suprema...

GIOVANNI: Idiotice.

CAROL: O quê?

GIOVANNI: Isso que você tá me dizendo...

CAROL: O que tem o que eu tô dizendo?

GIOVANNI: É a coisa mais idiota que eu já ouvi alguém dizer até hoje em toda a minha vida!

CAROL: Pois bem! A idiota aqui vai embora, e você nunca, nunca mais se atreva a falar comigo, entendeu?

GIOVANNI: Entendeu! Você não faz falta!

NARRADOR: Hã???

CAROL: Muito menos você, baixinho dentuço!!! Só falta um coelhinho azul e um vestido pra ser a “Mônica”!

NARRADOR: Ei, ela pegou pesado agora!

GIOVANNI: E você, com essa bunda de tanajura???

NARRADOR: O que, para mim era uma das suas maiores virtudes...

CAROL: Eu... eu... eu te odeio!!!

GIOVANNI: É, eu também te odeio!!!

MÃE: Passou pela cabeça de vocês que isso aqui é um velório? Se querem brigar, briguem lá fora!

CAROL: Desculpa, dona Adriana. Eu já to indo embora...

GIOVANNI: É, vá mesmo!

MÃE: Vocês dois, do jeito que brigam, vão acabar se casando.

GIOVANNI: Em seus sonhos, talvez!

NARRADOR: E nos meus também!

CAROL: Tenho que concordar com ele, dona Adriana. De qualquer forma, tenho que ir agora.
(continua...)

domingo, 2 de janeiro de 2011

De Léo Zadi Para João Paulo Güma


(Léo Zadi)

Ontem nasceu um pé de guma no meu coração...
E eram vários frutos gargalhando
Gumas verdes
Gumas azuis
Gumas rosas
Gumas lilazes
Brotou guma no meu sangue
E eu ardi, gozei pela pele
Tive euforia intensa, vontade de correr
Desejo de ser inabalável!
Esmaguei sementes de gumas coloridos
E fiz uma batida lisérgica de afoxé com frevo
Degustei gumas de abóbora e saí correndo pelas pontes do meu recife
Cantando Risoflora pro mangue..
Improvisei aforismas pelos becos...bebi pitú com amor..
Cheirei guma em pó, fumei guma prensado..
E deu uma bad tripa de curinga eufórico.. fiquei maloqueiro, ameaçador
Com vontade de cheirar suvacos de pretas..AHAHAHAHAHAHAH
...
E se voce nunca provou essa fruta, experimente, caro fregues.. faça sucos, doces, batidas afrodisíacas, compre já um kilo de gumas!
...
Não...
Não...
Ninguém derruba não o pé de guma dentro do meu coração. 

(Obrigado, grande amigo!)

O Fim de Uma Era: Parte 2 – O Legado


Todo governo, ao seu término, merece um balanço e o de Lula não pode ser diferente! Qual é o legado que ele deixou para o povo brasileiro? Vou tentar exprimir em alguns números, fazendo também um inevitável comparativo com o governo FHC.

O governo Lula reduziu a inflação de 12,5% (em 2002) para 4,3% (no final de 2009) ao ano e a taxa média anual de inflação no governo Lula (6% ao ano) é menos da metade da que tivemos no governo FHC (12,5% ao ano). Além disso, o governo aumentou o salário mínimo para o seu maior valor real em 40 anos, um aumento de 74% entre 2003/2010. O seu governo também reduziu a relação dívida/PIB de 51,3% para 36% do PIB e acumulou um superávit comercial de US$ 252 Bilhões (entre 2003 e 2010) o que facilitou também o pagamento de toda a dívida com o FMI e com o Clube de Paris. O Brasil se tornou credor do FMI, algo inédito na história do país, para quem emprestou US$ 10 Bilhões e hoje, a dívida externa líquida é negativa em US$ 65 bilhões. De lambuja, reduziu o déficit público nominal de 4% do PIB para 1,9% do PIB.

Na “Era Lula” ocorreu a ampliação da capacidade de investimentos do Estado, os investimentos do governo federal e das estatais em 2009 foram de quase R$ 90 Bilhões e em 2010 chegaram a quase R$ 119 bilhões.  As exportações foram de US$ 60 Bilhões/ano para US$ 198 bilhões/ano acumulando um crescimento de 230% em 6 anos. Em 2010, as exportações deverão superar os US$ 200 bilhões, o que acontecerá pela primeira vez na história do Brasil. O que favoreceu para o Aumento das reservas internacionais líquidas de US$ 16 Bilhões (em 2002) para US$ 285 Bilhões (Novembro de 2010).

Lula ampliou o Pronaf de R$ 2,5 Bilhões/ano (2002) para R$ 16 Bilhões/ano (2010). A concentração de renda e as desigualdades sociais diminuíram sensivelmente; o índice de Gini atingiu o menor patamar da História. O governo Lula gerou 15 milhões de empregos formais entre 2003/2010, elevou os gastos sociais públicos para 21% do PIB, criou programas sociais inclusivos, como o Bolsa-Família, ProUni, Brasil Sorridente, Farmácia Popular, Luz Para Todos, entre outros, que beneficiaram aos pobres e miseráveis e contribuíram para melhorar a distribuição de renda e tudo isso favoreceu para a redução do percentual da população brasileira que vive abaixo da linha de pobreza de 28% (2002) para 19% (2006), segundo o IPEA.

O BNDES emprestou R$ 137 Bilhões em 2009 para o setor produtivo, contra cerca de R$ 22 Bilhões em 2002. Além disso, Lula fez o Brasil se tornar credor externo, com um saldo positivo de US$ 65 Bilhões, algo inédito na História do país. Iniciou novas grandes obras de infra-estrutura (rodovias, ferrovias, usinas hidrelétricas, etc) financiadas tanto com recursos públicos como privados. Exemplos: Usinas do Rio Madeira, Transnordestina, Ferrovia Norte-Sul, recuperação das rodovias federais, duplicação de milhares de quilômetros de rodovias.

Na educação, Lula anulou portaria do governo FHC que proibia a construção de escolas técnicas federais e iniciou a construção de dezenas de novas unidades e que foram transformadas em Institutos Superiores de Educação Tecnológica (são 214 novas escolas técnicas federais construídas entre 2003/2010). Criou o Reuni, que iniciou um novo processo de expansão das universidades públicas, aumentando consideravelmente o número de universidades, de campus e de vagas nas mesmas.

Os lucros do setor produtivo cresceram quase 200% no primeiro mandato em relação ao governo FHC. O governo Lula fez o Estado voltar a atuar como importante investidor da economia. Exemplos disso: a criação da BrOI, que têm 49% do seu capital nas mãos do Estado; a compra e incorporação de bancos estaduais pelo Banco do Brasil (da Nossa Caixa, do Piauí, Santa Catarina e Espírito Santo) evitando que fossem privatizados; a participação da Petrobras em 2 grandes petroquímicas nacionais (a Braskem, com 30% do capital nas mãos da Petrobras; a Ultra, com 40% do capital nas mãos da Petrobras); o aumento da participação dos bancos públicos (BNDES, CEF, BB, BNB) no fornecimento de crédito para a economia do país. Elevou o volume de crédito na economia brasileira de cerca de 23% do PIB, em 2002, para 46% do PIB, em 2010;

Durante o governo Lula, nasceu o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que prevê investimentos públicos e privados de R$ 646 Bilhões entre 2007/2010; até 2013 os investimentos previstos chegam a R$ 1,14 Trilhão. Esse mesmo governo reduziu a taxa de desemprego de 10,5% (Dezembro de 2002) para 6,8% (Dezembro de 2008) e reduziu os gastos públicos com pagamento de juros da dívida pública para 5,9% do PIB (em 2008), representando uma queda de cerca de 36% quando comparado com o segundo mandato de FHC.


Se vocês ainda acham pouco, vale a pena ver esse quadro comparativo:

Qualquer outra dúvida, há esse documento extremamente útil:

Algo mais a dizer? Apenas que Lula vai deixar saudade...