segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Exercício para a alma




Abraçar o morto: faça! Nojento? Feio? Pecado? Que nada!

Faça, façam, façamos! Abracemos os mortos! Qual é o problema? Já não o fazemos exaustivamente em vida, ora defendendo suas ideologias, como no caso de Marx, ora ouvindo seus discos, como Elvis e Michael Jackson, entre tantas outras formas de babação ontológica? Creio que fazê-lo físicamente é bem menos comprometedor!

Como em todo processo deve-se respeitar as fases, seja gradativo, experimente dar seu primeiro abraço gelado usando como artifício (ou alvo) algum jornal-açougue. Siga meu conselho, dirija-se à última página do caderno policial, lá está o “filet mignon” da carnificina diária, o melhor cadáver, o corpo perfeito para se perder este cabaço existencial.

Depois de abraças aquele símbolo, deveras distante da realidade em forma e textura que pretendemos atingir, é interessante avançar um estágio nesse processo, talvez vários. Aconselho a ida a uma feira livre, procurar o negão da galinha, escolher uma delas, de preferência a maior de todas, para ser, sumáriamente, abatida. Antes de ocorrer o tal assassinato, experimente dar um abraço apertado. Preferencialmente assista o crime, dê um outro abraço após consumado e consuma a dita cuja, de preferência à cabidela.

Após consolidada a noção de que se come um cadáver todos os dias, o resto é mais fácil. Excetuando-se, óbviamente, a continuidade de seu status carnívoro e, em certos casos, a manutenção de seu casamento.

Entendem? Comemos, beijamos, escutamos, veneramos, enfim, abraçamos mortos todos os (santos ou não) dias, mesmo que alguns estejam, biológicamente falando, vivos.

Abrace o morto, mas não espere nenhum tipo de reciprocidade.

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