segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Clô e a Humanidade

Como coloquei a figura de Clodovil de uma forma um pouco vulgar no último post, decidi compensar postando um texto que fiz na época da morte do próprio:


Confesso, pensei em dividir minha ignorância com vocês, ilustres visitantes, novamente na época (não tão distante) do aborto e excomungação da menina de nove anos abusada sexualmente pelo padrasto... preferi não. Meninas são estupradas todos os dias, mães que abortam depois de serem violentadas são excomungadas todos os dias, e os que abusam sexualmente de crianças continuam não são excomungados, todos os dias (se fossem, talvez os padres fossem uma "espécie" em extinção). Mas Clodovil Hernandes se foi, e a sua fortuna irá, não para a Igreja, para meninas que possivelmente poderão escapar das estatísticas dos abusos familiares (e eclesiásticos). Em suma, Clô não morre todo dia!

Creio que comecei a escrever pelo meio, o tema do texto aqui redigido é Clodovil Hernandes, um homem com talento, coragem e inteligencia. Nunca foi telantoso como um Saint Laurent, corajoso como Zumbi ou o rapaz da Praça da Paz Celestial, muito menos inteligente como Platão, mas era ele, era autêntico. Era arrogante, mas com classe, sabia falar das coisas incomodando os que deviam ser incomodados. Era uma "bicha louca", mas sua loucura era recheada de conteúdo e intenções transgressoras, até certo ponto, subversivas, bem mais do que esses pseudo-marxistas que nos cercam de discursos batidos e com aquela coreografia braçal que todos nós conhecemos.

Clodovil era revolução e tradição em sua vida. Deu humor à moda, foi pioneiro com seu estilo de apresentar programas televisivos, fugia do óbvio sem perder a coerência... nem sempre agradava a todos! Pra falar a verdade, não agradava quase ninguém, era estereotipado pela maioria como um "gay que falava demais". Mas ele era mais, era um grande provocador, mas quando foi provocado, não soube manter a compostura, foi afastado da maioria das emissoras onde trabalhou pelo seu temperamento forte e sua incapacidade de segurar as palavras mais ferinas.

Depois de um tempo decidiu seguir a carreira política, quase como uma brincadeira, a última das suas provocações, dessa vez na da casa menos respeitada do Brasil, a Câmara dos Deputados. Mas seu mandato foi interrompido de forma abrupta e, pelo menos para mim, inesperada.

Com a sua morte, surgirá a Fundação Izabela (nome de sua mãe adotiva) que patrocinará as Casas Clô que seriam cor-de-rosa (óbviamente) e cuidariam de meninas órfãs. Lá, elas receberiam todo tipo de educação, desde aprender a pregar botão até se preparar para um concurso universitário. Isso tudo foi idealizado desde 2007 por Clodovil e registrado em seu testamento.

Que a Igreja siga o exemplo de Clô, e, ao invés de condenar (sexual e canônicamente), tente salvar a vida das crianças brasileiras.

Vai em paz, Clô... no paraíso não tem DST!

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