sábado, 1 de janeiro de 2011

O Fim de Uma Era: Parte 1 – O Sentimento



Eis uma frase que será difícil para se acostumar: “O ex-presidente Lula...”! Eu, por exemplo, lembro bem da época em que era surreal a idéia de Lula ser o presidente, lembro bem do terrorismo onde as bombas eram palavras, todas para atacar o então candidato Lula, que, por uma ironia do destino, foi o homem que mais perdeu eleições para presidente no Brasil. Lembro do dia em que chorei copiosamente ao ver Lula assumir. Chorei por mim, que não acreditava no que via, que tinha a esperança de que o país iria tomar o rumo certo, chorei por meus pais, eternos militantes do PT, meu pai, inclusive, escapou de um atentado na época da ditadura, chorei por Lula, me coloquei no lugar daquele retirante, torneiro mecânico, sindicalista, daquele que receberia o segundo diploma da sua vida, o de presidente da República Federativa do Brasil. Meu choro na tarde desta Segunda-feira, dia 1º de Janeiro de 2011, foi um choro saudosista, um choro de despedida daquele que foi o maior presidente da história do Brasil.

Tentar não ser melancólico é difícil num processo como esses, ver um homem velho chorando ao cumprimentar seu povo, principalmente depois do excelente governo feito, é algo de mexer com as emoções de qualquer um, principalmente para aqueles que, assim como eu, tiveram o prazer de conhece-lo. No meu caso, numa das visitas feitas por ele à Pernambuco, mais precisamente à UFPE. Um aperto de mão, três tapas (de uma mão pesadíssima) nas costas, e um “força, companheiro João!”. É óbvio que sei que aquilo foi um tratamento padrão, que ele não vai lembrar de mim na próxima vez que nos encontrarmos, enfim, sei que foi um encontro especial apenas para mim, mas estive com o homem, estive com a lenda, e ver a lenda se afastar do lugar que ele mais ama e onde ele é mais útil tem cheiro de tragédia, tal como ver os Beatles acabarem ou um Pelé, um Michael Jordan ou mesmo um Dan Marino se aposentarem.

Lula não foi um presidente perfeito, teve sérios problemas dentro do seu governo, mas soube cortar na própria carne quando necessário, abrindo mão de antigos companheiros que estavam “desestabilizando o governo” com suas práticas (sejamos bem sinceros) absolutamente normais para a política. Falo mais precisamente do mensalão, José Dirceu, e mais alguns que pecaram por dar continuidade a algo que, talvez, desde a época de Dom Pedro já existia. Não estou defendendo as práticas corruptas daqueles que falharam no governo passado, mas há de se convir que a política brasileira ficou um pouco mais transparente ou pelo menos a política de jogar tudo para debaixo do tapete foi amenizada.

Mas mudando um pouco de assunto, ver um torneiro mecânico brasileiro ser considerado pelo mundo como o político mais influente do planeta, é de arrepiar. Lembro-me que, pouco tempo após ser eleito, Lula recebeu severas críticas dos esquerdistas mais radicais, que o acusavam de estar fazendo um governo igual ao de FHC, que, por sinal, havia entregue um Brasil falido ao seu sucessor. Confesso que também me questionei em relação a isso, mas numa conversa com um dos meus mestres em relação à política, o deputado federal eleito, Luciano Siqueira, do PC do B, ouvi algo que o próprio Lula o havia dito, da forma com a qual nos acostumamos a ouvi-lo explicar as situações políticas, através de uma breve e simples metáfora. Ele falou de um carro com o motorista o guiando a 180 por hora, indo em direção a João Pessoa, motorista esse que percebe que está indo para o caminho errado. Ele tem duas opções, ou continua e vai diminuindo aos poucos a velocidade, ou faz uma curva brusca na direção desejada. A segunda opção seria trágica, com o capotamento e destruição do veículo em questão.

Enfim, acho que já falei demais desse pernambucano (tinha de ser) que mudou a cara do Brasil. Mas vem aí a parte 2 e nesse próximo texto vou inserir realizações do governo Lula.

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