segunda-feira, 22 de março de 2010

Não Chores Por Nós, Argentina!



Recentemente a Argentina conquistou mais um título que o Brasil não tem. Não me refiro a títulos no esporte... falo da conquista de um outro tipo de competição, desta vez, artística: o Oscar. A inveja que, num momento como esses, temos de nossos “hermanos” deveria, por outro lado, nos fazer pensar nos fatores que fazem da Argentina uma indústria cinematográfica ganhadora de uma estatueta da Academia, enquanto o Brasil é uma indústria que, há anos, sequer disputa a etapa final da competição.

É bem verdade que arte é arte em qualquer local quando o assunto é sua concepção. Nãop é pelo fato de um país ser mais ou menos desenvolvido que um artista o a arte de lá oriunda será de maior ou menor qualidade. Ela é uma ação inicialmente individual, que sai da mente e do espírito do artista que, no momento em que ela é revelada ao público, perde o controle da própria obra que torna-se coletiva e de livre interpretação.

Mas no caso da “Sétima Arte”, a verba destinada ao filme e o incentivo para a produção, às vezes, separa um bom filme de um vencedor de Oscar, ou mesmo de uma obra-prima. Como no futebol, não é o valor gasto que faz o vencedor. Questões logísticas e escolha das peças humanas e direção a ser tomada (ou roteiro, se preferirem) obviamente são importantes, mas é o trabalho minucioso do comandante, a preocupação com os mínimos detalhes do começo ao fim da jornada é que faz o diferencial.

No Brasil, há uma lei de incentivo à cultura que disponibiliza uma verba razoável ao cinema nacional. O problema é para quais filmes essa verba acaba sendo direcionada. Nos últimos anos, por exemplo, há uma tendência que vem dominando a cena cinematográfica brasileira: o cinema usado como extensão da televisão. Mas o que isso significa?

Significa que cada vez mais filmes comercialescos, com diretores, atores, e pior, enredos seguindo os moldes “globais” são produzidos. Como a intenção é, meramente, entreter (entenda-se alienar) o público, comédias burras, dramas vazios, romances clichês (com a sub-espécie “comédias românticas burras e clichês” facilmente encontradas) e uma porção de outras categorias de lixo cultural são produzidas com o dinheiro do contribuinte para gerarem lucro, sem se preocuparem com fatores estéticos indispensáveis para que aquilo possa ser considerado arte de qualidade.

Como conseqüência disso, as obras que realmente deveriam receber essas verbas vão sendo escanteadas, e elas, produções que realmente elevariam o conceito do cinema brasileiro à nível mundial, por falta de apoio não são concebidas da forma que deveriam para serem consideradas grandes filmes.

É notório que desde a obra-prima de Fernando Meireles, “Cidade de Deus”, nenhum outro filme brasileiro foi indicado ao Oscar. O último filme de destaque internacional foi “Tropa de Elite” que, por coincidência ou não, revela uma face negra do Brasil, assim como o filme de Meireles. Porém, no segundo filme, já encontramos características de um enlatamento do cinema nacional.

Isso não quer dizer que bons filmes não são mais produzidos no Brasil, apenas que o potencial das produções é prejudicado por essa conjuntura. Até mesmo a distribuição para os cinemas fica difícil com a invasão de filmes cheios de pseudo-artistas que atraem o público e geram aquilo que os donos de cinema querem: lucro.
Quanto à Argentina, sinceramente não conheço a política de incentivo à cultura de lá, muito menos assisti o filme em questão, sequer me dei ao trabalho de tentar me lembrar de seu nome. Pode, ele, até ser um oásis no deserto como foi “Central do Brasil” nos tempos em o incentivo era bem menor.

É fato que os critérios devem ser alterados para a distribuição das verbas públicas e as grandes produtoras devem bancar sozinhas seus filmes comercialescos ao invés de retirar dos potenciais grandes filmes a verba e o espaço que são importantíssimos para que eles vinguem.

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