quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Amor de Mordaça: O Encanto (Fragmento III)



Incrívelmente, estaremos juntos em breve. Antes de encontrá-la tomo duas lapadas de cana, chupo um bom limão e vou para batalha. Não que álcool me dê coragem, por mim ele é apenas utilizado de uma forma ritualística, quase que simbólica para afastar o meu medo. Serve como uma pílula de farinha curar a depressão. É quase um ritual de auto-enfrentamento. É como a dança dos “All Blacks” antes das partidas de rugby.

Ela realmente aparece com a tal amiga e o que ocorre no encontro é uma conversa tranqüila, onde, porém, não consigo adentrar o suficiente no âmago da questão desejada: o meu desejo. Conto umas histórias da minha vida, rimos um pouco, acho até que falo demais. Mas ela está ali, prestando atenção em mim, fazendo aquilo que eu implorava a Deus para que ela fizesse na sala onde estudávamos, na cidade, no país, no continente, no planeta onde vivíamos.

Parem as máquinas (um daqueles bem avalloneanos)!!! Ela estava olhando para mim, melhor, estava sorrindo, não sei se me achando ridículo ou legal, a questão é que ela estava sorrindo, e como é lindo o seu sorriso. Tento aproveitar, de uma melhor forma esse momento, mas não dá tempo. Apita o árbitro!

Ela vai embora levando uma camisa minha que a emprestei um pouco antes para amenizar o frio que ela sentia, frio que eu queria dissipar utilizando o calor do meu corpo. Peço, contudo, para ela não lavar a tal camisa, gostaria de ter o cheiro dela em alguma peça de roupa minha. Levo a tal sapatãozinha até sua casa antes de ir para minha, fato que me arrependo até hoje. Primeiro pelo favor feito a uma adversária, segundo pela chuva que tomo. Pior do que tudo isso... Eu, imbecilmente, abro o jogo e confesso à “Alec-fú” que estou apaixonado por sua amiga.

Meu Deus, eu a amo. Estranho, não amo desde os meus 17 anos... Volver a los 17? Sem saber que em pouco tempo Mercedes morreria, eu respondo: “Si! Si! Siiii!!!”. Como Stendhal dizia, basta um grau de esperança muito pequeno para que nasça o amor. Ei-lo, parido pela Grande Esperança Encarnada.

Eu não consigo mais pensar em outra coisa que não seja encontrá-la novamente e contá-la tudo o que sinto. É óbvio que a tal amiga “cola-velcro” teria dito tudo o que eu havia, de forma extremamente ingênua (para não dizer infeliz ou idiota), revelado. Convido, porém, a dona da minha mente novamente para sairmos. Decido chamá-la para assistirmos um espetáculo teatral de um amigo que, gentilmente, havia me cedido dois ingressos. Ela aceita, marca um horário e um local: um shopping que fica no Recife Antigo, à beira do Rio Capibaribe.

Chegando ao shopping, encontro um outro amigo que me vê com um brilho no olhar diferente (que mais parecia uma escarrada caramelada na parede) e com um sorriso radiante (mas que, definitivamente, não participaria de nenhum comercial de pasta de dente) e me questiona o brilho no olhar e o sorriso irredutivelmente estampado. Explico o que está acontecendo, que estou completamente apaixonado por uma moça e que vou encontrá-la em breve. Alem disso digo-lhe que vou com ela assistir ao espetáculo daquele que é nosso amigo em comum.

O fato era que ele era o pansexual mais sensível e sensato que eu havia conhecido, um desses raros achados do Retalho de Colchas Galáctico. Além de ter um ouvido paciente como poucos. Ele fica feliz em saber desse meu novo amor, afinal, sabia muito bem que desde que meu casamento havia terminado, eu não tinha tido muita sorte com as mulheres com as quais eu havia me envolvido. Uma atriz desejosa em fazer com que a sua “borboletinha pousasse em várias flores”, muito amiga dele, por sinal, e a tal morena quase perfeita, uma depressiva bipolar suicida dez vezes mais louca do que minha ex-mulher, foram os “destaques” desta época.

(continua...)

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