terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Amor de Mordaça: O Encanto (Fragmento IV)



Reconheço que meu casamento acabou, principalmente, por conta de umas tapinhas que eu havia dado, fora da cama, em minha, até então, mulher. Obviamente que aquilo que eu fiz foi, realmente, um verdadeiro absurdo. Não que eu seja a favor da Lei Maria da Penha. Pelo contrário, acho outro absurdo, outro avanço feminista que busca não a nivelação dos direitos entre os homens e as mulheres, mas a superioridade feminina completamente legitimada pela constituição. Por sinal, a própria lei fere o Artigo V da mesma. Sou a favor do direito inalienável da igualdade. Já não basta elas terem entre as pernas o que move a humanidade?

A questão é que o motivo de meu erro, enquanto conjuntura, era o fato de que eu era muito novo, imaturo e descontrolado. Recebia uma pressão imensa vinda de meus pais e dos pais dela. Ela, mais nova, mais imatura, muito mais descontrolada e errante como poucas. Para terminar o trabalho divino, ela sofria de transtorno bipolar, nossa vida era um verdadeiro inferno.

Como fui criado na base de uma psicologia que findava, corriqueiramente, em violentas surras (lesões nos meus joelhos decorrentes das “técnicas educacionais” de minha mãe me impediram, inclusive, que eu continuasse a ser um desportista competitivo) e meus argumentos pareciam não surtir efeito na cabeça oca de minha companheira, em alguns momentos, extremamente críticos, diga-se de passagem, eu enfiei a mão em sua cara. Não por covardia como falariam os machistas e feministas de plantão, mas por uma necessidade de frear seus impulsos, quase sempre violentos, que gerava mais violência. Obviamente que quando eu dava-lhe tapas, eu o fazia sem utilizar um terço da força que possuo. Na cama, por exemplo, eu batia com muito mais força e ela achava ótimo.

Tínhamos nos casado, principalmente, por ela ter engravidado exatamente na época em que eu iria terminar o namoro. Haviam sido cinco anos de uma relação bipolar, carregada de ciúmes por parte dela, que era uma linda morena namorando um homem claramente feio, eu era quem deveria sentir ciúmes, mas não era o que acontecia. Em tempos de crise, ela sempre ameaçava se matar e, depois de nossa filha nascer, começou a colocar em risco a vida das duas com esse comportamento.

Num desses dias, ela, durante a lactação, bebeu meio-litro de vodka para me fazer raiva e foi ninar e amamentar a nossa filha. Ao vê-la, quase desmaiando, amamentando (ou melhor, embebedando) a minha filha, saí de mim por quinze minutos e dei-lhe uma surra de criar bicho. É óbvio que errei de forma grave, que erramos, mas daí foi o começo do fim que se concretizou quando ela me deixou, alguns meses depois, por um cara, o qual ela sequer tinha visto pessoalmente, pois o havia conhecido através da internet.

Depois dela, conheci uma atriz, amiga desse tal amigo que encontrei no shopping. Ela me via na faculdade, mas eu não a conhecia. Mantivemos um contato via internet e, no dia em que nos conhecemos, começamos a namorar. No dia seguinte eu já estava dormindo em sua casa, tomando café-da-manhã com a sua mãe. Jogando Winning Eleven com seu irmão mais novo.

Tudo parecia maravilhoso nesse relacionamento. O seu carinho, nossos orgasmos concomitantes, as gentilezas mútuas, a forma com a qual nos encaixamos em tão pouco tempo. Contudo, como as coisas eram sempre rápidas demais entre nós, ao final dessa mesma semana, na qual havíamos iniciado nosso fulgás relacionamento, tivemos uma briga e terminamos.

Numa tentativa de reconciliação, ela se descobre a tal “borboletinha”. Depois de terminarmos em definitivo (pelo menos assim eu prefiro crer) ela sai comendo o Recife em peso. Enfim, já fazia um bom tempo que eu não fazia uns exames de rotina mesmo, a minha relação com ela me incentivou, um tempo depois, a fazê-los. Negativo, graças a Deus!

Já a terceira me chegou... Não, não, nada de piadas internas! Mas ela chega como se viesse do nada, como se fosse pro nada, mas acabou marcando a minha vida. Uma bela morena-jambo. Pequena (que para mim, é o tamanho perfeito), com um corpo perfeito (seios mais-que-perfeitos), com um sorriso perfeito, com uma pele perfeita (Cravo & Canela and Jambo Stile). Ela havia de ter um defeito: uma depressiva, com transtorno bipolar, que tomava três remédios por dia para não querer se matar.
 
Essa foi, sem dúvida, a relação mais romântica que eu já tive até hoje. Eu cantava para ela ao telefone, escrevia pequenos sambinhas dedicados e inspirados nela. Ela, sempre carinhosa, me ligava nas madrugadas só para ouvir a minha voz, perguntava se eu moraria na Espanha caso ela fosse para lá, eu dizia que sim. O problema era que o intervalo entre um “eu te amo” e um “eu te odeio” ou “nunca mais quero te ver” era uma média de quinze minutos. Ela era, realmente, uma completa desequilibrada. Pra completar, ela tinha um pearcing no umbigo e uma tatuagem de coelhinha da Playboy na cintura.

Em meio às nossas brigas, ela acabou se envolvendo com um garoto que, por uma acaso, eu conhecia desde que ele era um pirralho. Ele, irmão de uma amiga, ambos oriundos da Índia. “Lá eles não fazem mal às vacas!” Assim disse-lhe quando realmente cansei das idas e vindas desta relação maluca. Dias depois, ela foi embora para Salvador, completamente puta comigo. O fato é que eu gostava bastante dela, esperava muito dessa relação. Foi, sem dúvida, uma grande desilusão que complementou as outras duas mais recentes e todas as desilusões amorosas que eu havia tido até então. Esse conjunto de fatores fez de mim uma pessoa que não acreditava mais em relacionamentos. Um solteiro (e talvez solitário) convicto e praticante.

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