quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Só Mautner Salva


Há dias que o dia parece que não vai acabar. Ontem, 10 de Novembro, por exemplo. Pareceu uma semana inteira! Ver quem não se quer ver, no dia em que não se quer ver, junto de pessoas que, definitivamente, você sequer deseja que exista não é o melhor fim de tarde, que já parecia fim de semana. Pior, já parecia o fim do mês iniciado na hora zero desse mesmo dia.

Mas a sorte e o azar, o amor e o ódio, são lados da mesma moeda. Dois lados da moeda mirabolante da vida, este malabar embriagado que nos faz passageiros iludidos de uma espaçonave transcendental. Há de se convir que o processo de transição entre a sorte e o azar, o amor e o ódio e outros antônimos primordiais são quase imperceptíveis, se é que há essa transição, se é que não passamos de seres movidos, apenas, por referenciais positivos e negativos e essa baboseira de bem e mal não passa de uma convenção. Mas ontem, dia que sarcasticamente apelidei de “O Natal do Amor”, encontrei um dos homens que sabem falar sobre o amor da forma mais sublime que existe. Seu nome é Jorge Mautner!


Para quem não conhece o homem, pergunte ao senhor Google, pesquise, deixe de ficar procurando as novas modinhas da internet, deixe de assistir essas séries ridículas (que, definitivamente, não são engraçadas), deixe de ouvir a poesia quadrada das bandinhas de rock brasileiras ou estadunidenses, ou mesmo da MPEB (Música Popular das Entendidas Brasileiras). Melhor, faça tudo isso, mas com a noção do quanto é ridículo e sem conteúdo isso e muito mais que a(s) mídia(s) nos oferecem. Pesquise Jorge Mautner, entre tantos outros gênios da música brasileira. Livre-se da alienação.


Mas, voltando mesmo a Mautner, num encontro antes de seu show, ontem, na concha acústica da UFPE, ele diluiu com poucas palavras algo que me angustiava. Tudo bem que antes mesmo do encontro ele já havia dito “Você foi pela estrada assim/Como quem não vai volta/Quem fica é quem chora/Até se acabar/Minhas lágrimas se acabaram/Mas não a vontade de chorar/Te amei no dia em que te vi/Domando um bando de leões/Domando aquelas feras, conquistando os corações/Dizendo que o amor nunca morre porque tem ressurreições/Sete mil quartos secretos guardam um segredo/Só o amor, só o amor pode matar o medo” (Ressureições – Jorge Mautner/Nelson Jacobina). Basicamente um recado musicado.


Já havia sido o suficiente, mas, para completar, ainda tinha um “Você, olhos de fuligem/Vê se acalma a alma na obsessão/Só vai se dar bem, com alguém, alguém de Virgem/E muita Atenção com essa mordida de Escorpião” (Namoro Astral – Jorge Mautner). O show em si foi experimental, com maracatu, ciranda e a sua presença tal como um mestre de cerimonias musical, quase xamânico, com seu violino mágico.


Dormi com as lembranças do dia, de como senti o calor e o frio das pessoas, o amor e o ódio, de como o azar e a sorte fazem parte de um mesmo momento, de um mesmo dia, de uma mesma vida. Lágrimas negras cairam... sairam... doeram:
 


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