sábado, 25 de abril de 2009

Utopiadas... (2009)

Quando o genial Thomas Morus imaginava como seria sua sociedade utópica (que, por sinal, seria em Fernando de Noronha) ele não sabia o que era beber uma Coca-Cola. Platão não costumava mandar seus textos através de correntes via e-mail. Muito menos Karl Marx sabia o gosto de um Big Mac. Mas suas idéias têm uma indubitável posição que levam ao bem comum e a justiça social, tudo o que não é relacionado com as atuais tendências globais: globalizantes e engolobadoras. Ouço Platão gritando: sair da caverna é preciso! O problema é a República (dele ou não) que nos espera ao fim da famigerada gruta.

Será a marxista (Leninista, Stalinista, Trotskista ou Gumista, com o perdão pela inclusão de minha utopia), a platônica, a marcuseana (O assassino das utopias)? Qual será a melhor forma de conduzir uma sociedade com autoridade, mas sem opressão, com desenvolvimento juntamente com a divisão justa das riquezas geradas? Será a nossa atual a melhor ou a pior de todas? Existe uma alternativa viável à nossa?

Se eu soubesse, estaria influenciando algum poderoso governante, trabalhando como analista social, escrevendo livros ou fazendo qualquer outra coisa que, definitivamente, não seria um pseudo-trabalho de português de primeiro período de uma graduação.

O que eu sei (interpretando pensadores de verdade) é que quando a forma de conduzir a sociedade centra-se numa base sólida, pensada e construída com conceitos, que inicialmente podem até ser utópicos, mas que precisam ser viáveis na prática, não importa se é uma democracia, uma ditadura ou mesmo uma plutocracia, toda a sua construção política e social também torna-se sólida e consequentemente, bem sucedida. A imagem de sucesso faz dessa sociedade modelo para outras, a imposição torna-se fácil, um império se solidifica e uma nova ordem mundial pode surgir.

Mas assim como o legado de um grande pensador acaba por ser deturpado pelos seus seguidores, todo tipo de governo, quando se é “exportado”, apresenta peculiaridades, distorções e conseqüências relacionadas à melhor ou pior adaptação por parte de seus habitantes. Essa condição faz surgir outras perguntas: de que importa para um império que seus modos políticos, estruturais e sociais sejam seguidos à risca? De que vale o sucesso total de uma nação que pode acabar sendo uma concorrente? Não seria criar uma serpente venenosa no próprio quintal? Creio, humildemente, que sim!

Sejamos claros: o nome que se dá a essa forma de exportação de modos de governo, de vida, de educação, enfim, de sociedade, chama-se globalização. Não há um ser, grupo ou mesmo nação globalizada que se beneficie mais do que um ser (ou mesmo um ente), grupo ou nação globalizadora, pois ela, a globalização em si, é resultado de uma necessidade histórica de liderança. Sua ausência distorce os parâmetros, cria dicotomias que chegam a ser (para as classes dominantes) incômodas e pode gerar incerteza e insegurança.

Soa paradoxal, a partir do momento em que o que move a história é a possibilidade de se praticar o ideal de liberdade, quando um líder, segundo a ótica atual, necessita ser copiado e nunca contestado (a não ser por conceitos de mesma raiz com pequenas peculiaridades divergentes). Mas a história é assim: paradoxal.

Um belo exemplo é a própria burguesia, que é, sem dúvida, a maior força consciente da atualidade, que recebeu o maior elogio que uma classe poderia receber. De quem? De seu maior crítico (ou se os comunistas mais exaltados preferirem, inimigo), Karl Marx (o marxiano, diga-se de passagem) quando ele disse que ela foi a única classe realmente revolucionária na história da humanidade, transformando a sociedade da superfície ao núcleo. E ele estava certo, tanto que até hoje ela colhe os frutos de seu sucesso, impondo uma ordem mundial e institucionalizando cada vez mais seu pensamento fazendo uso de suas duas maiores armas: o capital e a alienação (gerada também por nossa companheira, a globalização).

Podemos pensar em uma alternativa a essa liderança. Mas como ela seria? A minha já não tão humilde opinião me leva a vislumbrar uma liderança, não centralizadora, mas sim divisora de poderes e recursos, que preze não pela dureza dos discursos, mas sim pela ternura que faz das insatisfações um meio de se chegar ao bem comum e não um empecilho para a construção de uma sociedade igualitária. Que preserve não só os direitos básicos, mas também aqueles que dizem respeito à individualidade (e até mesmo à futilidade inerente à nossa condição humana), ou seja: uma sociedade que contemple todas as categorias do sucesso.

Tomando a palavra poética cantarolada por Zé Ramalho: “Aquilo que naquele momento se revelará aos povos surpreenderá a todos, não por ser exótico, mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto quando terá sido o óbvio”!

2 comentários:

  1. "[...]que preze não pela dureza dos discursos, mas sim pela ternura que faz das insatisfações um meio de se chegar ao bem comum e não um empecilho para a construção de uma sociedade igualitária. "

    Genial, brilhante, incrivel e eu não tenho nem palavras...
    Parabéns João, otimo demais teu blog...

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  2. jah sou metido... com mulher bonita me elogiando assim... vou ficar metido feito cantor de banda emo.

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